quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 11

11
O coração de August queria sair pela boca, ficou ofegante em menos de cinco segundos.
        – Sim sou eu, é você Fabiano?
        – Sim – respondeu a outra pessoa. August não acreditava, até sentou-se. Abeline só sorria, com os olhos minúsculos lacrimejando de emoção.
        – Fabiano, quanto tempo meu caro! Estive pensando em você por todos esses longos anos, você não dera mais noticias, o que houve, você está bem mesmo?
        – Sim, sim. Estou bem, me desculpe amigo, é que eu estava pensando umas coisas, e nunca criei coragem de te ligar antes, me perdoe, é de coração mesmo. Mas hoje eu não aguentei...
        – Pensando em quê, Fabiano? O que te impedia de falar comigo?
        – É que eu te via numas reportagens, revistas e jornais. Você cresceu! Você é um homem bom, bem sucedido. Rico. E eu... eu, bem Gu, eu não tive tanta sorte assim, o destino quis que eu ficasse...
        – Ficasse... – August repetiu.
        A palavra parecia estrangular Fabiano, mas por fim saiu:
        – Pobre.
        – Mas isso é uma bobagem Fabiano!! Eu não acredito nisso...
        – Gu, você é milionário, achei que não quisesse mais falar comigo, você tem seus problemas, não queria ser mais um para você.
        August balançava a cabeça inquietamente, não acreditando no absurdo que seu amigo dissera. – Fabiano, onde já se viu? Eu não estou acreditando que você não me deu mais notícias por causa disso, não é motivo!! – e antes que ele respondesse, August continuou, atropelando suas próprias palavras. – Desse jeito você me ofende, sabia?!
        – Calma – sussurrou Abeline, mas August pareceu não ter escutado.
        O rumo da conversa com certeza não era esse, mas foi o que tomou. Uma discussão começava a se formar, não muito séria, mas August não se conformava. Eles foram tecendo a conversa por vários minutos, e assim ela ficou cheia de “por quês”. Abeline só escutava, sem interromper, pois ela sabia que o final daquela discussão boba seria bom...
Dito e feito. Os dois agora “conversavam”, até esboçavam um sorriso.
– Fabiano – disse August, acabando com o restinho de humor que tinha na conversa. – Hoje estou com vários convidados, não posso deixá-los esperando. Fiquei muito feliz em recuperar meu melhor amigo, mas me desculpe, tenho que desligar. Me deixe seu número de telefone, ligarei assim que puder para nos falarmos. Temos muito o que contar, não acha?
        – Com certeza, – disse Fabiano, rindo – e levarei puxões de orelhas, não é?
        – Sim, você merece!
        – Feliz aniversário!
        – Obrigado!
        E riram.
        Despediram-se ainda sorrindo. August baixou o fone vagarosamente, como se ele fosse feito de um material muito frágil. Olhou para Abeline, que com toda certeza do mundo estava emocionada, e disse:
        – Abeline, isso foi uma surpresa e tanto. Realmente um presente.
        – Sim, eu sabia que o senhor ia gostar.
        Os dois desceram alguns minutos depois. Quando August adentrou no salão, todos os olhares voltaram-se para ele. August estava mais corado, mas não por ser fitado por uma multidão de olhos curiosos, mas por estar mais contente.
        O jantar elegante e delicioso continuou. Ninguém se atreveu a perguntar por que o aniversariante da noite se ausentara por uns treze minutos, não era da conta de ninguém, porém, August recebeu os mesmos olhos durante o jantar. Todos estavam alimentados, não só pela comida que degustavam, mas também pela curiosidade, pois August voltara estranhamente mais vívido.
        Quase uma hora se passou, e uma cena se repetiu. Abeline chamara August novamente. – E agora? O que seria? – perguntou August para ele mesmo. – Com licença.
        Quando August saiu do salão acompanhando Abeline, o pessoal começou a sussurrar. Pronto, era o bastante. O que está havendo? Todos se entreolhavam. Não se continham em perguntarem uns aos outros o que estava acontecendo. Somente os garçons estavam agindo da mesma maneira, sempre prontos, eficazes. Robóticos.
        – O que foi Abeline? O pessoal já estava me olhando torto, e agora, nem imagino como estão – murmurou August indo para a sala principal.
        – Mais um telefonema – avisou sua empregada.
        – Notícias boas?
        – Não perguntei, saberei com o senhor – e soltou risinhos.
        – Alô? – disse August. – Como está? Tudo bem com você? Ah, eu estou ótimo... pensei que você viesse... não pode vir por quê? Hmm, mas está tudo bem, não é Isadora? Ah, muito bem... Imagina, obrigado minha irmã, fico muito feliz por você ter ligado para me desejar um feliz aniversário... – August parou por um tempinho. – Como assim o aniversário é meu e é você quem ganha presente? Não entendi.
        – Então August – começou a explicação de uma mulher do outro lado da linha, sua voz era aguda, alegre. – A festa é sua, mas sou eu quem vai ganhar um presente. Estou grávida, August!
        – Nossa! Que ótima notícia! Faz quanto tempo que você soube que está esperando um bebê?
        Ao ouvir isso, Abeline soltou umas risadinhas.
        – Dois meses? – perguntou August.
        – É, queria ter a certeza que estava, para eu poder te contar, tudo bem exagerei um pouco, mas não diga nada, estou avisando a tempo. – E gargalhou, junto a August.
        – Tudo bem, é uma surpresa e tanto, Isadora. Ah, e obrigado pelo presente que você me mandou, os sapatos e a gravata são muito bonitos, estou usando agora, ficou muito bem em mim.
        – Ah, não foi nada Gu, é só uma lembrancinha – deu risinhos novamente.
        – Mandarei uma foto para você.
        – Tá bom.
        – Isadora, foi um presente e tanto para mim, saber que serei tio. Um tio na idade de avô, mas mesmo assim serei tio – August riu um pouco, e de repente foi atacado por sua memória, como se tivesse levado um choque. – Isadora! Quase ia me esquecendo! Serei tio duas vezes!
        – É verdade! Também estou sabendo! Recebi uma carta de Valéria, acho que já faz um mês, ela me disse que adotou uma criança e estava feliz... bem, não muito feliz porque o homem que ela amava morreu, mas ela se sente bem. 
        – Que bom que se falaram! Ela pedira seu endereço mesmo, passei a ela, fico feliz que tenham se falado. Vamos tentar não perder mais o contato um com o outro, isso é muito importante, somos irmãos, não é?! 
        Conversaram por um pouco mais que sete minutos e por fim a conversa terminou. August desligou e a pessoa ao seu lado lutava para não chorar.
        – O que foi mulher?
        – Ah, Sr. August, tudo parece tão mudado. Isso é bom! Muito bom! Valéria mandou notícias, e adotou um filho. Fabiano ligou informando que estava bem. E agora Isadora diz que está grávida. Isso não é perfeito?
        – Sim – ele assentiu. – Me sinto bem melhor, sabe?
        Quando August entrou novamente no salão, a primeira coisa que fez foi comunicar aos convidados o que havia acontecido. Ficou em pé, recebendo olhares curiosos, e pôs-se a explicar:
        – Recebi duas ligações hoje. Peço desculpas logo de início, por ter deixado vocês, mas para mim, essas ligações foram algo que eu realmente queria ganhar. Um amigo, e não devo deixar de ressaltar isso, meu melhor amigo, desde a infância, me deu notícias. Não nos falávamos há séculos... – houve murmúrios vindo de todas as direções, mas cessaram logo após August recomeçar a falar. – A segunda ligação foi da minha irmã, Isadora, que me presenteou dizendo que serei tio – mais murmúrios. – Mas gostaria de comunicá-los também, que serei tio duas vezes. Valéria, outra irmã que tenho, e que mora muito longe, já tem um filho – August não queria comentar que seu sobrinho era adotado. Mas adotado ou não, ele não deixaria de ser de Valéria.
        Todos aplaudiram. A festa começou a ficar animada. August só não gostou de ter que apertar a mão dos convidados, que eram poucos, mas pareciam inúmeros. Todos levantam-se para lhe dar os parabéns por tornar-se tio.
        A noite e o jantar continuaram, perdendo um pouco da elegância conforme o tempo ia passando, pois as pessoas conversavam mais, e como já haviam bebido uma quantidade razoável, riam sem parar. August não era de dar muitas gargalhadas, mas hoje era um dia especial. Não só pelo fato de ser seu aniversário, mas pelas ligações, principalmente por isso, sem sombra de duvidas.
        A noite formal se transformou de repente, estava mais divertida. Abeline largou o posto de recepcionista e juntou-se ao pessoal, conheceu alguns dos amigos de seu patrão. Conversavam e riam, riam e bebiam, bebiam e gargalhavam. Com toda certeza do mundo, August não planejara isso, mas preferiu que fosse assim, ele sentia-se feliz.
        Compartilharam risos e pequenos fragmentos da vida de cada um. Até que os convidados iam se retirando da festa. Cumprimentavam August ao sair, rindo, pelas conversas e pelo efeito do álcool.
        A noite comemorativa acabou. August se despediu de todos e foi dormir. Estava ansioso em ligar para Fabiano no dia seguinte...
        De manhã, ainda sonolento, August pegou seu celular e ligou para Fabiano. Alguns itens da ligação anterior foram novamente comentados. August ofereceu um emprego a seu melhor amigo. E ele, mesmo falando que não acreditava, acabou aceitando. Ia se mudar para a Cidade Esperança. Viver mais próximo ao seu amigo Gu.
        Os dois já faziam planos. August perguntara o que ele sabia fazer. Fabiano disse que já fora assistente de gerente de contratos numa empresa bem pequena da cidade. August achou ótimo, sabia até onde seria sua sala na Metal Industrial...
        Os dias que se passaram foram muito diferentes para August.
        E mais uma vez: o tempo tem o poder de modificar tudo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário