quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O CÚMPLICE E O ASSASSINO - Capítulo 13

13

Mais dois anos se passaram. Juliet já estava recuperada, não completamente, pois Abeline as vezes ainda a encontrava em seu quarto, encolhida e chorando, mas ela conseguiu superar muitas coisas.
          Tinha dezessete anos agora e tornara-se mais bonita, seu corpo era perfeito, e seu rosto angelical. Cuidava de seu tio que cada dia parecia mais velho.
          August mal saía do seu velho e bom quarto. Só para almoçar e jantar, pois a maioria das vezes ele tomava seu café da manhã lá mesmo. Ele prometera cuidar de sua sobrinha, mas na realidade era ele quem estava sendo cuidado. Ela o tratava com muito carinho.
          Juliet nem parecia aquela menina chorona do começo. Era uma mulher muito decidida e eficiente.
          Ela não namorava ainda, só pensava em estudar. No próximo ano, tinha em mente, que faria um curso superior num lugar mais simples, não que ela precisasse, pois seu tio pagava a melhor escola da cidade, mas ela queria. Queria saber como é estudar numa escola pública.
          August não a deixava trabalhar ainda, queria que ela aproveitasse bastante sua vida. Ela ia ocupar um lugar muito bom na Metal Industrial, e então para quê se preocupar agora?
          Juliet respeitava a decisão de seu tio. Consequentemente, o que restava a ela, era estudar.
          Abeline estava na sala principal, sentada no sofá, esperando August descer para lhe servir o almoço, foi quando Juliet se aproximou e começou a dizer, num tom baixo:
          – Tia Be, estive pensando em falar com o titio sobre estudar numa faculdade pública. O que acha que ele vai dizer?
          – Bem minha filha. A primeira coisa que ele vai perguntar é a mesma coisa que eu quero saber agora.
          – O quê?
          – Por que estudar numa escola pública, quando se pode ter os melhores estudos do país?
          – Ah, tia Be. Você está igualzinha a ele.
          – Não Juliet, não estou. É que você sabe que está cheio de gente querendo botar as mãos no dinheiro dos outros. E você, minha filha, é rica. O perigo é maior, se você ficar exposta numa escola de pessoas de classe social menor que você, eles vão te fazer mal, por causa do dinheiro, minha querida.
          – Ai tia. Até me arrepiei agora. Mas acho que você vai concordar comigo: quero ter amigos pobres. Se eu viver no meio deles, eu vou sentir se estão comigo por causa do dinheiro ou não. Assim posso sentir a verdadeira amizade. Pois onde eu estou estudando só tem gente de narizinho empinado. Nascidos ricos. Mas eu não. Eu não nasci rica. Eu sou uma pessoa humilde, tia Be!
          – Compreendo minha filha, mas isso não faz com que o perigo se afaste.
          – Mas tia. Eu não tenho amigos! Quero ter amigos! Os meus amigos, quer dizer, colegas, são falsos, conversam comigo não porque gostam de mim, mas porque sou igual a eles, tenho dinheiro, não sinto amizade verdadeira...
          – Sim – disse Abeline, quase mudando de idéia, mas logo falou: – Juliet, não acha que será pior se você encontrar amigos “diferentes” de você? Aí é que eles se “passarão” por seus amigos. Entenda.
          – Mas tia Be, eu vou saber se são falsos ou não, esqueceu? Vivo no meio de muitos! E sei discernir muito bem, gente que gosta de mim e gente que gosta do dinheiro. A questão agora é: peço para o tio August ou não?
          Antes que Abeline pudesse responder, uma voz meio rouca vinda da escada, perguntou:
          – Pedir o que para mim?
          – Ah, então tio, eu... eu...
          Juliet ia inventar algo, mas desistiu, estava decidida a estudar em outro lugar.
          – Ah tio, sabe o que é? Eu estava conversando aqui com a tia Be sobre no próximo ano, eu estudar em outro lugar.
          – E por qual motivo? Juliet, a escola que eu pago para você é a melhor que encontramos.           Os professores são...
          – Eu sei tio August, mas não é isso.
          – O que a preocupa, Juliet?
          – Não é nada tio. Simplesmente quero estudar numa outra escola.
          Tipo... pública, talvez.
          – O quê?! – August deu pulo, que fez até suas frágeis costas doerem.
          Juliet viu que aquela seria uma longa história de convencimentos.
          – Vamos almoçar e depois eu te conto tudo – ela sabia que não seria fácil, pois se nem a Abeline ela conseguiu convencer, imagine seu tio, que a protegia como se fosse feita de vidro.
          Estavam almoçando: Juliet, seu tio e Abeline, e naquele almoço comentaram sobre a aposentadoria de Fabiano, que estava mais do que na hora de acontecer.
          Abeline falou também que o seu filho, Natan, estava para vir para a Cidade Esperança, pois se separara da esposa.
          – Ele disse que estava velho demais para morar comigo – disse Abeline, referindo-se ao seu filho. – Mas eu exigi que Natan viesse. Não tem nada a ver a idade. O filho tem que sempre estar perto de sua mãe.
          – Se isso fosse possível... – sussurrou Juliet involuntariamente, fazendo com que Abeline percebesse a frase mal pensada que acabara de proferir. Ela pediu desculpas logo após.
          Abeline e August permaneceram calados. Juliet, depois de um tempo, ia se preparando para falar com seu tio sobre aquele assunto. Seu coração já pulsava mais rápido só de pensar.
          No fim das contas, August não aceitou. Juliet ficou triste, mas não ia desistir tão fácil. Ela de imediato decidiu fazer algo. Ia conversar com Fabiano. Claro. August o ouviria.
          Logo após o almoço ela foi à casa de Fabiano. Conversaram por muito tempo. Ela começou perguntando sobre a aposentadoria, se ele ia viajar, ou se apenas ficar sossegado. Fabiano notara desde o início que ela não estava ali para isso, mas deixou a conversa rolar.
          – Estou aqui também para lhe pedir um favor – começou ela.
          Juliet contou tudo sobre sua ideia. E obteve sucesso. Fabiano dissera: “Deixa comigo”.
          Ela saiu da casa dele dando pulinhos de alegria. Chegou em casa e August interrogou-a:
          – Onde esteve?
          – Fui à biblioteca, tio August, mais para dar uma volta mesmo – mentiu Juliet.
          Minutos depois o telefone de August tocou.
          – Alô? Oi Fabiano, tudo bem?
          Juliet achou melhor se retirar da sala. Foi ao seu quarto e ficou imaginando a reação que seu tio teria. Tomara que dê tudo certo! Só Fabiano mesmo para mudar aquela cabeça dura do tio August.
          Toc. Toc. August chegou ao seu quarto. – Pode entrar – disse ela com o coração a mil.
          – Fabiano acabou de me ligar, sabia?
          – Aham – foi o que ela conseguiu dizer.
          – Sua vontade era tão grande assim a ponto de armar isso com Fabiano? – August riu, fazendo-a relaxar um pouco.
          – Ah tio. É que o senhor não queria deixar e...
          – Tá bom minha menina, eu deixo. Que seja feita a sua vontade. Prometi te dar tudo o que quisesse. Com certeza é contra meus conceitos, mas se é pra você ficar contente...
          – Ah tio! Você é a melhor pessoa do mundo! – Juliet lhe deu um abraço muito apertado.   Os dois riram, acabando com aquela tensão.
          Eles escutam o telefone tocar lá embaixo, logo Abeline atende. Minutos depois os dois descem do quarto. Juliet ainda estava sorrindo.
          Abeline se encontrava na sala principal, dura como uma estátua, ao lado do telefone.
          Juliet pareceu não perceber sua expressão de pânico, e disse:
          – Tia Be, tenho uma notícia para te dar... o que foi? – disse ela com sua voz minguando.
          – Eu também tenho uma notícia para lhes dar. Sr. August, por favor, sente-se.
          Uma sensação súbita de desespero atacou Juliet e seu tio. Os dois sentaram-se automaticamente. Espantados.
          – O que houve Abeline? – falou o velho gaguejando. – Por favor, nos conte, não estou mais na idade de receber notícias desse jeito – ralhou ele. – Conte-nos!
          Juliet viu o lábio inferior de Abeline tremer e seus olhos se encheram de lágrimas. Queria acalmá-la, porém ela estava assustada também.
          – Acabo de receber uma notícia, senhor. É do hospital...
          Em menos de um segundo o velho pensou em Valéria. O que será que houve com ela? Juliet permaneceu calada. Algo a engasgava.