terça-feira, 30 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 6


6 
– Rick, não estou acreditando! – a voz de Valéria ficara alta, seu sono havia ido embora. – Rick, você não sabe quanto tempo eu... Onde você está? 
        – Valéria, estou aqui em Lisboa ainda... 
     – Por que você não me ligou mais? – ela interrompeu-o. Seu coração ainda acelerado, mas bastante contente, parecia não caber em seu peito. Imagens de um ano atrás percorreram sua mente. Aquele incidente. Aquele encontro desastrado. A bolada – ela riu em pensamento. – Por que você não ligou? 
        – Bem – começou ele com a voz tremida. – Você terminou comigo. Tomou uma decisão na sua vida. Eu já não fazia mais parte dela. Então, como um bom fracassado, eu aceitei a derrota. Não dei notícias porque pensei que não me amasse mais... Valéria, hoje de manhã, quando eu acordei, a primeira coisa que eu pensei foi naquele encontro que tivemos, quando nos conhecemos, lembra? 
        – Aham. 
        – Então, quando cheguei aqui, não parava de pensar em você, não dava para controlar, até que foi cessando, eu admito, mas hoje, mas hoje foi diferente. Acordei pensando em você e querendo te ver a qualquer custo. Valéria, eu ainda a amo muito! 
        Os olhos dela encheram-se de lágrimas, mas a vontade de tê-lo era tão grande que ela fez uma proposta que mudaria a sua vida para sempre. 
        – Rick, por favor... volta? 
        Ao ouvir isso, Ricardo ficou mudo. Engoliu em seco, e de última hora, ele respondeu, gaguejando. 
        – Eu volto meu amor. 
        Os dois choraram, as pulsações aumentaram e a emoção tomou conta. Ficaram uma hora no telefone. E até faziam planos. Ricardo voltaria dentro de um mês. E conforme o combinado: iriam ter um filho. “Eu, mãe? Eu vou ter um filho?” A felicidade não cabia naquela casa. Se for menino vai se chamar Anderson, e se for menina será Débora! 

Contando os dias, Valéria foi dormir ansiosa, muito ansiosa. Seu grande amor, o Ricardo, embarcaria na manhã seguinte. Seu coração, desde aquela ligação, batia de forma diferente. Era interessante e inexplicável. A doçura de Valéria aumentou. Contagiava a todos, mas ela mantinha segredo, não contara a ninguém que o seu Rick ia voltar. Era surpresa. O único homem que a merecia estava voltando. Voltando para ela. Todo dela. 
        Valéria dormiu muito tarde, embora, acordara cedinho. Sonhara com ele, estava feliz da vida. Ricardo, só iria ligar quando estivesse no aeroporto do centro da cidade, só para Valéria ficar na expectativa. Ela já havia pensando no cardápio. Lasanha. Ricardo adorava sua lasanha. 
        Na noite passada, ela também pensou em que horas mais ou menos ele ia sair de Lisboa. Acho que às onze horas. É isso, onze horas. Ela estava tão feliz por falar com Ricardo que, quando ele falara o horário, ela nem prestou atenção. Não quis ligar novamente, tinha decidido que só falaria com ele agora, pessoalmente. Não vejo a hora! 
        Horas depois o aroma da sua comida era embriagante. Tomava toda a casa. Valéria agora estava num banho gostoso e relaxante, com o sorriso no rosto. O banho terminou e ela foi para a sala e ligou a TV como de costume, e agora pensava na sobremesa. 
        – Bolo? Uma torta, que tal? Ahm, mas ele não resiste meu pudim! Farei pudim! – resolveu. 
Enquanto ela se deliciava pensando no que fazer, uma notícia urgente passava na televisão. Sua atenção foi chamada. Ela foi até seu aconchegante sofá e aumentou um pouco mais o volume da TV. A moça bonita, repórter internacional do jornal, estava falando da queda de um avião que partira de Lisboa. 
        – Lisboa?! – gritou Valéria. Ela deu um pulo. Levantou-se. Fechou os olhos e depois continuou vendo a matéria, mesmo sem querer. A jovem repórter estava comunicando que não houvera sobreviventes. Não pode ser! Era uma notícia catastrófica. 
        – Não pode ser. Rick, meu Rick. Não pode ser! – Valéria já imaginava coisas. Saiu cambaleando atrás de seu celular, para ligar para Ricardo. Tentou três vezes, mas não obteve resposta. Mas a cruel verdade era indiscutível, ela não queria acreditar, mas não dava para mudar, a fatalidade com o seu amor havia acontecido. Ricardo estava naquele voo. – Nenhum sobrevivente – a voz da moça repetia-se mentalmente em sua cabeça. Lágrimas e mais lágrimas rolavam em seu rosto. E assim foi por uma semana inteira. A doçura de Valéria havia sumido. A dor apossou-se dela, tornara-se sua companheira nesses dias. Difíceis dias. 
        O seu cérebro fotografara a imagem de Ricardo, seu único amor, num caixão. E essa foi a última vez que ela o viu. Amava-o ainda, mesmo sabendo que ele não estava vivo. A sua voz ainda estava gravada na mente. "Querida, quero ter um filho com você!", "Vamos ter um filho... um filho..." – e a inconfundível voz sumia como se fosse vapor. Isso a perseguia, aumentando sua dor. Valéria continuava só, sempre estivera, mas agora era diferente. Encontrava-se fraca, melancólica e, indiscutivelmente, arrependida. Arrependida por não ter se entregado a Ricardo na hora certa.

2 comentários:

  1. Me lembrou um pouco Sidney Sheldon, com os picos de felicidade, entao cai terrivelmente rápido kk triste

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  2. Lembrar um pouco Sidney Sheldon pra mim é uma honra! Hehehe... Pois é, criei uma montanha russa na estória inteira! Só tá começando! Rsrs

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