quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 4

4 
Muito distante de Vila Pequena existia, na Cidade Esperança, a empresa Metal Industrial, que produzia diversos tipos de equipamentos industriais, e era a maior do estado, empregando mais de três mil pessoas. A Metal Industrial era conhecida internacionalmente e tinha muitos clientes pelo mundo inteiro. 
        O lucro da empresa era sempre muito alto. Milhões e milhões eram ganhos anualmente. Revistas e mais revistas falavam do assunto. “A Metal Industrial está em primeiro lugar no ranking das empresas que mais lucram por ano”, “A maior empresa da Cidade Esperança, é a melhor na nossa avaliação de satisfação, estamos falando da Metal Industrial”, “O 1º lugar em relação a preocupação com o bem-estar dos funcionários, na área metalúrgica, foi conquistado pela Metal Industrial, na semana passada”...


        O dono dessa “fábrica de fazer dinheiro”, era um senhor que morava no centro da Cidade Esperança, conhecido como  Sr. August Kind. Era muito inteligente, um profissional invejável. Sabia o que fazia, e detalhadamente correto. Os erros, quando haviam, eram triviais, e logo eram corrigidos por seus auxiliares, ou por ele mesmo. O segredo de tanto sucesso era a ligação, o elo amigável entre os colaboradores, o que tornava o ambiente de trabalho muito mais harmonioso. E assim, a empresa ia conquistando e satisfazendo seus inúmeros clientes. 
        A historia desse homem bem sucedido começou com um sonho. Há muitos anos, apelidado por seus colegas de "Gu", August queria ser conhecido internacionalmente, isso fazia com que seus amigos tirassem sarro de sua cara. 
        – Não queremos te desapontar Gu, mas como é que você vai ser conhecido assim? E ainda mais, internacionalmente. Você não é um astro do rock, não é cantor, não é político e nem empresário. É quase impossível. 
        – Não sei como realizarei o meu sonho – respondia ele. – Mas impossível, eu tenho absoluta certeza de que não é... 
        – Eu disse “quase”, não afirmei que era impossível – rebateu Fabiano, seu melhor amigo na época. – Mas olha aqui Gu, não importa como, se você sonha com isso, vamos em frente! 
        – Como assim, vamos? 
        – Ué, você não pensou que ia fazer isso sozinho, não? Vou ajudar você. 
        Fabiano deixara saudades. Prestes a completar dezoito anos, ele partira para outro lugar. Seu pai havia morrido, e ele foi obrigado a morar com sua mãe em outra cidade. Ir embora e ficar longe de seu melhor amigo, foi muito doloroso para Fabiano, tão doloroso quanto a perda de seu pai. Os dois amigos eram de famílias pobres, não tinham como viajar sempre para se encontrar. Mês ou outro se falavam por telefone, e assim o tempo foi passando, e é claro, modificando as coisas. Fabiano não entrara mais em contato com o amigo. 
        Os dois foram crescendo e há anos August não via e não falava com seu melhor amigo. O jovem ainda não desistira de seus sonhos. Quando ele completou vinte e três anos, já estava num emprego excelente como engenheiro mecânico. Tinha vontade de encontrar Fabiano, para contar-lhe tudo e saber o que seu amigo fazia da vida. 
O destino não fora tão bom para os dois: quinze anos sem se falar. Gu, hoje o Sr. August, conseguira o cargo de diretor da empresa tão falada, a Metal Industrial. Algum tempo depois, de diretor passou a ser presidente. 
Certa vez o Sr. Ralf chamara-o em sua sala. Ralf era objetivo. Decidido. Ele fora explicando: 
        – August, – começou – que vida a sua, não? 
        – Sim – disse ele em resposta. Que vida a minha? O que ele quis dizer? 
        O velho Ralf recomeçou, vendo a sua expressão confusa: 
        – Estou falando de sua vida profissional, meu caro. 
        – Ah, sim. Claro. 
        – Sua vida profissional vai ser diferente da minha – disse ele, misteriosamente. – Vou te explicar. Eu vim de uma família rica. Meu pai era dono dessa fábrica há muito tempo atrás – ele riu. – Muito tempo mesmo, e como eu era filho único, herdei-a. Não vou mentir – ele fez uma pausa breve – tudo para mim foi fácil. Emprego, riqueza, luxo, e tudo mais. Então... 
        Um longo silêncio predominou na sala. O Sr. Ralf sofria com algo que sua mente o fazia lembrar. 
        – Está tudo bem? – perguntou August, realmente preocupado. 
        – Não. Não estou – falou o velho com sinceridade. – Eu estou doente, August. Não estou bem. – E antes que August falasse algo ele continuou. – Eu tenho uma proposta. 
        O coração de August dera um pulo, parecia não caber em seu peito, pulsava rápido. 
      – Você está bem? – agora quem perguntou foi o velho. – Está vermelho. 
        – Ahm – August não sabia o que dizer. Logo deixou a verdade falar por ele. – Bom, é que o senhor vai me fazer uma proposta, e eu não me contive, deve ser boa, imagino. 
        – Sim, é boa – respondeu o Sr. Ralf, balançando sua cabeça. – A proposta é a seguinte: tenho que me afastar da empresa, por motivos de saúde, como eu já havia dito, por isso, tenho que ter alguém para me substituir... 
        – Substituir?! – August interrompeu, ficando cada vez mais vermelho. Será que é o que eu estou pensando? 
        – August, eu tinha que deixar a empresa para alguém de confiança e o escolhi, sei da sua trajetória e sua vida sofrida, e... 
Um baque foi ouvido. August desmaiara , se estatelara no chão. O Sr. Ralf de início riu, mas logo chamou ajuda. Dois enfermeiros chegaram, prontamente. Levaram-no para a Enfermaria da empresa. “Foi só um desmaio”, dizia um deles. 
        Logo quando se recuperou o Sr. Ralf fora avisado, e humildemente ele foi ver August. O velho chegou até a porta e abriu-a. Os enfermeiros e o médico levantaram-se, cumprimentaram-no, e logo responderam: “O Sr. August está na segunda sala à direita, senhor”. 
        – Obrigado. 
        Ainda deitado, August começara a abrir mais os olhos. Perguntava-se onde ele estava, coisa típica de um recém-desmaiado, e logo, como se fosse um flash de luz, lembrou-se do Sr. Ralf. Meu Deus! O Sr. Ralf... eu desmaiei, não acredito, eu desmaiei na frente dele? E, de repente, o velho abriu a porta. Logo perguntou se ele estava bem. “Aham”, conseguiu dizer. August fez um pequeno esforço para se sentar, sua cabeça doía. Terminado os gemidos de August, o Sr. Ralf brincou: 
        – Preciso de você vivo. Tem que ficar bem – e em menos de um segundo, August lembrou-se do que tinha escutado. Lembrou-se da frase que saíra da própria boca do dono da Metal Industrial. 
        – Precisa de mim, não é? – August disse, arrependendo-se extremamente da frase mal pensada. “Estou me sentindo bobo. Acho que é por causa da queda”, pensava, mas não era isso, e ele sabia muito bem. Era por causa da brilhante proposta. Tomaria o lugar do Sr. Ralf. Receberia a Metal Industrial de mãos beijadas. Eu, dono da Metal Industrial? – e tentava imaginar. 
        – Eu gostaria de terminar a nossa conversa – começou o velho – mas não aqui. Assim que se recuperar, August, conversaremos melhor. 
        – Tá – respondeu. – Quer dizer, sim senhor. Conversaremos mais tarde. 
        O Sr. Ralf saíra. Os enfermeiros e o médico estavam curiosíssimos para saber o motivo da visita dele.

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