quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 11

11
O coração de August queria sair pela boca, ficou ofegante em menos de cinco segundos.
        – Sim sou eu, é você Fabiano?
        – Sim – respondeu a outra pessoa. August não acreditava, até sentou-se. Abeline só sorria, com os olhos minúsculos lacrimejando de emoção.
        – Fabiano, quanto tempo meu caro! Estive pensando em você por todos esses longos anos, você não dera mais noticias, o que houve, você está bem mesmo?
        – Sim, sim. Estou bem, me desculpe amigo, é que eu estava pensando umas coisas, e nunca criei coragem de te ligar antes, me perdoe, é de coração mesmo. Mas hoje eu não aguentei...
        – Pensando em quê, Fabiano? O que te impedia de falar comigo?
        – É que eu te via numas reportagens, revistas e jornais. Você cresceu! Você é um homem bom, bem sucedido. Rico. E eu... eu, bem Gu, eu não tive tanta sorte assim, o destino quis que eu ficasse...
        – Ficasse... – August repetiu.
        A palavra parecia estrangular Fabiano, mas por fim saiu:
        – Pobre.
        – Mas isso é uma bobagem Fabiano!! Eu não acredito nisso...
        – Gu, você é milionário, achei que não quisesse mais falar comigo, você tem seus problemas, não queria ser mais um para você.
        August balançava a cabeça inquietamente, não acreditando no absurdo que seu amigo dissera. – Fabiano, onde já se viu? Eu não estou acreditando que você não me deu mais notícias por causa disso, não é motivo!! – e antes que ele respondesse, August continuou, atropelando suas próprias palavras. – Desse jeito você me ofende, sabia?!
        – Calma – sussurrou Abeline, mas August pareceu não ter escutado.
        O rumo da conversa com certeza não era esse, mas foi o que tomou. Uma discussão começava a se formar, não muito séria, mas August não se conformava. Eles foram tecendo a conversa por vários minutos, e assim ela ficou cheia de “por quês”. Abeline só escutava, sem interromper, pois ela sabia que o final daquela discussão boba seria bom...
Dito e feito. Os dois agora “conversavam”, até esboçavam um sorriso.
– Fabiano – disse August, acabando com o restinho de humor que tinha na conversa. – Hoje estou com vários convidados, não posso deixá-los esperando. Fiquei muito feliz em recuperar meu melhor amigo, mas me desculpe, tenho que desligar. Me deixe seu número de telefone, ligarei assim que puder para nos falarmos. Temos muito o que contar, não acha?
        – Com certeza, – disse Fabiano, rindo – e levarei puxões de orelhas, não é?
        – Sim, você merece!
        – Feliz aniversário!
        – Obrigado!
        E riram.
        Despediram-se ainda sorrindo. August baixou o fone vagarosamente, como se ele fosse feito de um material muito frágil. Olhou para Abeline, que com toda certeza do mundo estava emocionada, e disse:
        – Abeline, isso foi uma surpresa e tanto. Realmente um presente.
        – Sim, eu sabia que o senhor ia gostar.
        Os dois desceram alguns minutos depois. Quando August adentrou no salão, todos os olhares voltaram-se para ele. August estava mais corado, mas não por ser fitado por uma multidão de olhos curiosos, mas por estar mais contente.
        O jantar elegante e delicioso continuou. Ninguém se atreveu a perguntar por que o aniversariante da noite se ausentara por uns treze minutos, não era da conta de ninguém, porém, August recebeu os mesmos olhos durante o jantar. Todos estavam alimentados, não só pela comida que degustavam, mas também pela curiosidade, pois August voltara estranhamente mais vívido.
        Quase uma hora se passou, e uma cena se repetiu. Abeline chamara August novamente. – E agora? O que seria? – perguntou August para ele mesmo. – Com licença.
        Quando August saiu do salão acompanhando Abeline, o pessoal começou a sussurrar. Pronto, era o bastante. O que está havendo? Todos se entreolhavam. Não se continham em perguntarem uns aos outros o que estava acontecendo. Somente os garçons estavam agindo da mesma maneira, sempre prontos, eficazes. Robóticos.
        – O que foi Abeline? O pessoal já estava me olhando torto, e agora, nem imagino como estão – murmurou August indo para a sala principal.
        – Mais um telefonema – avisou sua empregada.
        – Notícias boas?
        – Não perguntei, saberei com o senhor – e soltou risinhos.
        – Alô? – disse August. – Como está? Tudo bem com você? Ah, eu estou ótimo... pensei que você viesse... não pode vir por quê? Hmm, mas está tudo bem, não é Isadora? Ah, muito bem... Imagina, obrigado minha irmã, fico muito feliz por você ter ligado para me desejar um feliz aniversário... – August parou por um tempinho. – Como assim o aniversário é meu e é você quem ganha presente? Não entendi.
        – Então August – começou a explicação de uma mulher do outro lado da linha, sua voz era aguda, alegre. – A festa é sua, mas sou eu quem vai ganhar um presente. Estou grávida, August!
        – Nossa! Que ótima notícia! Faz quanto tempo que você soube que está esperando um bebê?
        Ao ouvir isso, Abeline soltou umas risadinhas.
        – Dois meses? – perguntou August.
        – É, queria ter a certeza que estava, para eu poder te contar, tudo bem exagerei um pouco, mas não diga nada, estou avisando a tempo. – E gargalhou, junto a August.
        – Tudo bem, é uma surpresa e tanto, Isadora. Ah, e obrigado pelo presente que você me mandou, os sapatos e a gravata são muito bonitos, estou usando agora, ficou muito bem em mim.
        – Ah, não foi nada Gu, é só uma lembrancinha – deu risinhos novamente.
        – Mandarei uma foto para você.
        – Tá bom.
        – Isadora, foi um presente e tanto para mim, saber que serei tio. Um tio na idade de avô, mas mesmo assim serei tio – August riu um pouco, e de repente foi atacado por sua memória, como se tivesse levado um choque. – Isadora! Quase ia me esquecendo! Serei tio duas vezes!
        – É verdade! Também estou sabendo! Recebi uma carta de Valéria, acho que já faz um mês, ela me disse que adotou uma criança e estava feliz... bem, não muito feliz porque o homem que ela amava morreu, mas ela se sente bem. 
        – Que bom que se falaram! Ela pedira seu endereço mesmo, passei a ela, fico feliz que tenham se falado. Vamos tentar não perder mais o contato um com o outro, isso é muito importante, somos irmãos, não é?! 
        Conversaram por um pouco mais que sete minutos e por fim a conversa terminou. August desligou e a pessoa ao seu lado lutava para não chorar.
        – O que foi mulher?
        – Ah, Sr. August, tudo parece tão mudado. Isso é bom! Muito bom! Valéria mandou notícias, e adotou um filho. Fabiano ligou informando que estava bem. E agora Isadora diz que está grávida. Isso não é perfeito?
        – Sim – ele assentiu. – Me sinto bem melhor, sabe?
        Quando August entrou novamente no salão, a primeira coisa que fez foi comunicar aos convidados o que havia acontecido. Ficou em pé, recebendo olhares curiosos, e pôs-se a explicar:
        – Recebi duas ligações hoje. Peço desculpas logo de início, por ter deixado vocês, mas para mim, essas ligações foram algo que eu realmente queria ganhar. Um amigo, e não devo deixar de ressaltar isso, meu melhor amigo, desde a infância, me deu notícias. Não nos falávamos há séculos... – houve murmúrios vindo de todas as direções, mas cessaram logo após August recomeçar a falar. – A segunda ligação foi da minha irmã, Isadora, que me presenteou dizendo que serei tio – mais murmúrios. – Mas gostaria de comunicá-los também, que serei tio duas vezes. Valéria, outra irmã que tenho, e que mora muito longe, já tem um filho – August não queria comentar que seu sobrinho era adotado. Mas adotado ou não, ele não deixaria de ser de Valéria.
        Todos aplaudiram. A festa começou a ficar animada. August só não gostou de ter que apertar a mão dos convidados, que eram poucos, mas pareciam inúmeros. Todos levantam-se para lhe dar os parabéns por tornar-se tio.
        A noite e o jantar continuaram, perdendo um pouco da elegância conforme o tempo ia passando, pois as pessoas conversavam mais, e como já haviam bebido uma quantidade razoável, riam sem parar. August não era de dar muitas gargalhadas, mas hoje era um dia especial. Não só pelo fato de ser seu aniversário, mas pelas ligações, principalmente por isso, sem sombra de duvidas.
        A noite formal se transformou de repente, estava mais divertida. Abeline largou o posto de recepcionista e juntou-se ao pessoal, conheceu alguns dos amigos de seu patrão. Conversavam e riam, riam e bebiam, bebiam e gargalhavam. Com toda certeza do mundo, August não planejara isso, mas preferiu que fosse assim, ele sentia-se feliz.
        Compartilharam risos e pequenos fragmentos da vida de cada um. Até que os convidados iam se retirando da festa. Cumprimentavam August ao sair, rindo, pelas conversas e pelo efeito do álcool.
        A noite comemorativa acabou. August se despediu de todos e foi dormir. Estava ansioso em ligar para Fabiano no dia seguinte...
        De manhã, ainda sonolento, August pegou seu celular e ligou para Fabiano. Alguns itens da ligação anterior foram novamente comentados. August ofereceu um emprego a seu melhor amigo. E ele, mesmo falando que não acreditava, acabou aceitando. Ia se mudar para a Cidade Esperança. Viver mais próximo ao seu amigo Gu.
        Os dois já faziam planos. August perguntara o que ele sabia fazer. Fabiano disse que já fora assistente de gerente de contratos numa empresa bem pequena da cidade. August achou ótimo, sabia até onde seria sua sala na Metal Industrial...
        Os dias que se passaram foram muito diferentes para August.
        E mais uma vez: o tempo tem o poder de modificar tudo!

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 10

10
Semanas depois, a casa de August estava toda decorada, com uma elegância hipnotizadora. Laços enormes em dourado, fitas amarelas amarradas no teto, saindo de um ponto e se espalhando pelo salão, como se fosse um lustre gigante. Foram instaladas poltronas e sofás para que os convidados ficassem muito bem acomodados. Os garçons já estavam à disposição e eram inteiramente precisos.
        Aquela era para ser a festa do ano, porém, o milionário não gostava disso, tudo foi feito nos conformes, com um planejamento rigoroso, principalmente o cardápio daquela noite, mas ele queria somente os colegas de trabalho, só os mais íntimos, nada de festança. “É simplesmente um jantar”, dizia, embora não houvesse nada que se encaixasse em “simples” ali.
        Todos os anos eram assim. “Não é uma festa Abeline, é somente um jantar”, falava August para sua empregada, que em resposta dizia: “Eu sei, e tudo deve estar perfeito! O senhor merece!”
        Os convidados, que não eram muitos, começaram a chegar lá pelas seis horas da tarde, quando o céu já estava quase escuro. Algumas pessoas eram pontuais e outras chegavam um pouco atrasadas, sempre dando uma explicação para Abeline, que ficava a porta para recebê-los.
        Um casal mais bonito que o outro passava pela entrada. Abeline ficava encantada com tanta elegância. “Por aqui, por favor”, dizia, conduzindo-os até o salão, exageradamente decorado, onde se encontrava o aniversariante.
        O senhor August era cumprimentado sem parar, já estava até com dor nas bochechas de tanto sorrir, mas estava bom, ele precisava disso mesmo.
        Os convidados eram conduzidos por garçons até suas mesas, enfeitadas com muito requinte. O cardápio de pratos quentes era constituído com a deliciosa culinária francesa, combinando com os mais deliciosos vinhos chilenos. Tudo de primeira. Feito por cheffs altamente qualificados, como os convidados podiam perceber ao saborear a comida.
        Depois de tantos cumprimentos e desejos de felicidades, August enfim, pode se sentar e relaxar um pouco, alguns já haviam começado a degustar as deliciosas refeições, e outros esperavam por August. Enfim, o banquete estava apenas começando.
        O pessoal esbanjava elegância, e elogiava o ótimo gosto que August tinha para a culinária.
        Ele, por um momento pensou em Valéria e Isadora comendo num pequeno restaurante que frequentavam muito antigamente, por mais que August fosse pobre, tinha as artimanhas com os talheres e tudo o mais, ele nascera assim, educado e fino. Elas, sem o menor jeito, deixavam a comida cair para fora do prato, mas ainda eram crianças, August ria quando isso acontecia. Tinha dia que ele gastava o seu salário todo ali, mas não abria mão de mostrar o melhor para suas pequenas irmãs, e para seus pais também, que eram pessoas um tanto humildes, porém felizes por terem August, o Gu querido deles.
        A imagem que ele tinha em mente foi se dissolvendo e aos poucos foi se convertendo em um salão, mais luxuoso ainda do que o que ele havia frequentado naquela época. Agora estava no seu salão, com todo o pessoal convidado. Rindo e degustando o banquete de realeza.
        Minutos depois Abeline chega até a entrada do salão, com uma expressão estranha. Pavor ou excitação? August não sabia dizer. Ela o fitava de longe, e ele, muito discretamente levantou-se, pedindo licença aos presentes, que assentiram. August rumou-se à sua empregada, e logo foi percebendo que o que ela tinha era uma espécie de alegria, que parecia não caber nela. Menos mal, não era algo ruim, mas Abeline estava um tanto esquisita. Ele chegou até ela categoricamente. E disfarçadamente pediu que o seguisse até a sala de estar.
        – Desculpe senhor, mas não pude deixar para depois.
        – O que houve Abeline?
        – Não se espante Sr. August, o senhor receberá um presente e tanto esta noite, não é material, mas o senhor vai adorar, eu tenho certeza.
        – Mas que diab... Abeline, me fale logo.
        – É um telefonema Sr. August. Já repassei a ligação para o seu quarto, ande, não espere.
        – Bem, mas... tá bom, vou subir.
        August começou a subir os degraus um pouco mais rápido que de costume, e a sua empregada foi acompanhando-o sem ser convidada, mas tudo bem, August não ligava, pois fora ele quem dera toda liberdade a ela.
        Chegaram ao quarto, ele pegou o fone e o pôs no ouvido, e antes de falar qualquer coisa ele olhou para Abeline, esquecera de perguntar quem era. “Surpresa”, sussurrou ela.
        – Alô – August disse.
        – Oi – respondeu uma voz que ele não identificou de início, mas era familiar, o timbre talvez, mas ele não sabia ainda. – Gu, é você?

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 9

9
Eles ficaram em silêncio após a leitura da carta de Valéria. Ambos emocionados. Abeline lembrou-se de seu amado que morreu há anos. Ele era motorista de caminhão, vivia fazendo entregas e só chegava em casa nas noites de sexta-feira, de certa forma ela já era uma pessoa um pouco só, mas quando ele partiu naquele temeroso acidente, onde dois caminhões se colidiram numa rodovia em uma tarde chuvosa, ela se sentiu muito mais só. Foi aí que August a acolheu. Conheceu-a em um restaurante muito bonito, onde ela era cozinheira. August gostou dela e a convidou para trabalhar com ele. Como recusar um convite desses, direto do dono da Metal Industrial? Portanto, aventurou-se em seu mais novo emprego e foi muito bem recebida. E tornara-se muito amiga de August.
        – Já nem me lembrava mais o quanto é bom termos parentes. 
        – É – concordou Abeline, recordando-se de sua única companhia quando seu marido viajava: Natan, seu filho único, que se casara com uma doce moça, Bárbara. Ambos eram muito novos ainda, mas se amavam. Viviam viajando pelo mundo inteiro, conhecendo lugares, pois Natan era formado em Turismo, e dificilmente mandava notícias à mãe. 
– O senhor vai jantar agora? – Abeline quebrou o silêncio. 
        – Ah sim, vou – respondeu o velho, dobrando a carta e depositando-a no envelope. Levantou-se e foi até a sala de jantar, acompanhado por Abeline. 
        – Não demoro – disse ela. – Vou servir o jantar daqui a pouquinho – e saiu. 
        August sentara-se feito um rei, a mesa era enorme, coberta por uma toalha branca muito detalhada com linhas cor de ouro, completando uma elegância absoluta. Nas paredes tinham pequenas luzes vermelhas, dando a impressão de que o ambiente era quente, mas não era, pois o ar-condicionado estava ligado. Disseram a August que a cor vermelha instigava a fome, e foi por este motivo que mandou instalar as tais luzinhas. 
        Abeline pediu para que o ajudante do cheff de cozinha fosse servir August, que jantou sua deliciosa refeição, vagarosamente, como sempre. Após a sobremesa ele retirou-se da sala de jantar e foi ao salão principal. 
Ele chamou Abeline para que conversassem sobre o possível testamento. 
– Gostou do jantar? – perguntou ela. 
        – Estava maravilhoso, como de costume, Abeline. 
        – Que ótimo – e sentou-se ao seu lado. Na imensa sala vazia. 
        – Pois bem, – começou ele – novamente quero agradecer a você, porque tirou uma preocupação muito grande de cima de mim, já não conseguia mais trabalhar direito, acredita? 
        – Aham. 
        – Então, vou fazer um testamento Abeline, você acha que devo? 
        – Sr. August – iniciou ela – não vejo mais motivos para que o senhor adie essa sua decisão, e além do mais, se isso te preocupa, e não te faz bem, é melhor que resolva logo. Mas pense, não se alvoroce, tudo tem que ser feito com calma. Está bem? 
        O velho assentiu. E tinha como discordar? 
        – Vejamos, eu primeiramente penso nas minhas irmãs. 
        Ele deixou sua mente divagar. Lembrou-se dele, que já era um homem formado, e de suas duas irmãs bem pequenas, Valéria e Isadora, que brincavam em um campinho ali perto de sua humilde casa. Seus pensamentos foram a um dia ensolarado, onde num piquenique, suas irmãs prometeram que nunca iriam se separar, tinham somente sete e oito anos na época, não sabiam como a vida era uma surpresa. 
        Pois bem, as meninas cresceram, e o singelo pacto de nunca se distanciarem, foi quebrado, cada uma tomou um rumo diferente, a mais radical fora Valéria, que “sumiu do mapa”, como diziam Isadora e August. 
        As duas eram mulheres muito decididas. Poderiam ter a vida que quisessem, pois August poderia dar, ele era rico, mas nenhuma quis. Queriam ganhar a vida com o próprio suor. Eram teimosas quanto a isso, mas August tinha que aceitar. 
        – Bom, então – disse August depois de um longo silêncio, retornando a realidade –, como ia dizendo, vamos acabar com isso logo, não é mesmo? 
        – Sim – disse sua empregada encorajadora. 
        August não tinha segredos com ela. Abeline era a única empregada, e única pessoa, que sabia de todos os lucros e gastos dele. Ela sabia muita coisa. 
        O senhor subiu em seu quarto pedindo que Abeline o acompanhasse. Chegaram lá e fecharam a porta. August pegou sua maleta e retirou um computador de mão, para fazer os cálculos. 
        
        Ele suspirou. Pegou uma pequena caneta especial e encostou-a na tela do aparelho... Na planilha agora, encontrava-se o nome de Valéria e Isadora, e na frente de cada um deles, ele digitou valores, não exatamente em números, mas em bens. Logo em seguida falou para Abeline: 
        – Deixarei a Metal para Isadora – sua voz era um pouco rouca, mas decidida. – Para Valéria, deixo minha mansão e certa porcentagem dos lucros da empresa, isso gira em torno de... – ele parou, pensou, e depois digitou 20%. Abeline viu e assentiu. 
        – E para você... 
        – Ah não Sr. August, – disse ela, assustando-o – o dinheiro que eu juntei ao longo desses anos já dá para eu me virar muito bem, pois o que o senhor me paga de salário já está bom demais. 
        – Mas Abeline... 
        – Mas nada, Sr. August, o senhor já me paga muito mais do que eu deveria receber. Não preciso de mais. Entende? – rebateu a humilde senhora. 
        – Entendo, entendo sim. Eu entendo que o testamento é meu, e sei o que faço, e, ah! Não me interrompa – advertiu. – Vou fazer o que bem entender Abeline. E por favor, não me atrapalhe, sei que é bem humilde e não quer, mas eu quero dar. Ouviu, não é? 
        – Mas Sr. August... 
        – Mas nada, Abeline – disse ele, no mesmo tom que ela usara para falar a mesma frase de advertência. Os dois riram. 
        Agora, na planilha, encontrava-se o nome de Abeline, e uma porcentagem de cinquenta por cento do dinheiro de sua poupança, e a outra metade era dividida entre os empregados e instituições de caridade. 
        – Sr. August! – Abeline pulou, assustando-o. 
        – O que foi mulher?! – disse ele espantado. 
        – Não posso receber tudo isso! É muito! Nem sei o que fazer com tanto dinheiro, o senhor deve ter milhões de reais guardados. Minha nossa! O senhor enlouqueceu? 
        – Não senhora. E não diga que estou louco. Estou perfeitamente bem. Você é a minha melhor amiga, Abeline, devo isso a você, e por favor, não me atrapalhe – falou ele com sua voz de censura e olhando-a de canto. Ela estava com as mãos na boca, parecia chocada. Meu Deus, deve ter muito, mas muito dinheiro em sua conta! Ela nem conseguia imaginar o quanto. – E outra coisa – começou ele. – Não me dê outro susto como esse, posso morrer antes mesmo de terminar os meus cálculos. 
        Eles riram. E continuaram a fazer a distribuição dos bens de August. 
        – Pronto! – disse ele por fim. – Feito! 
        – Ótimo – falou Abeline, ainda assustada com os valores distribuídos: a Metal para Isadora, a mansão e vinte por cento dos lucros que a empresa tiver para Valéria, cinquenta por cento do dinheiro que constava na poupança de August para Abeline, vinte e cinco por cento para serem divididos entre seus empregados e os outros vinte e cinco por cento para instituições de caridade (ele não listara os nomes delas, deixara a missão para Abeline, que escolheria quais seriam beneficiadas). 
        Uma sensação de alívio caíra sobre o velho, que até o momento estava hipnotizado, vidrado, superconcentrado na distribuição que fizera. Mas como tipicamente, o alívio dele durava pouco, culpa de uma coisa que era rara, mas existia: pessimismo. Ele olhou para sua empregada e falou: 
        – Abeline, relaxe um pouco – disse ele ao ver sua expressão. Os dois pareciam sentir a mesma coisa. Algo inquietante. 
        – Relaxar, Sr. August? 
        – Sim. Não há nada com que se preocupar mulher – disse ele, mas se contradizendo, pois estava preocupado com algo também. – Quero lhe perguntar uma coisa. Você acha que a distribuição foi feita de forma correta? Justa? 
        – Olha senhor, de certo modo foi, mas ao mesmo tempo não. Quanto aos bens que deixara para suas duas irmãs eu concordo plenamente, mas em relação a... 
        – Ah, Abeline. De novo? Não, não quero ouvir o que você tem a dizer, a sua parte já está decidida, não discuta comigo sobre isso, está bem? Certo? 
        – Hmmm. Tá, tá. Já sei que não posso mudar sua cabeça dura. Desisto. 
        – Bom mesmo – disse August, deixando a preocupação sumir aos poucos.

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 8

8
August pegou a carta, no remetente lia-se o nome de Valéria. “Valéria!”, exclamou August parado na porta. “Quanto tempo! Não falo com ela há muitos anos”.
       – Pois é! – concordou a senhora.
       – Abeline, guarde-a para mim, eu tomarei o meu banho e logo após abrirei, está bem?
       – Sim, mas não demore muito senhor, eu estou curiosíssima quanto a isso – e chacoalhou a carta. Seus olhos brilhavam de vontade de abri-la, mas não podia. Se bem que ele não iria se importar, mas por questão de educação preferiu guardá-la e mostrar a ele primeiro. Lógico.
       August entrou em sua banheira, transbordando de espuma. Sua empregada sempre acertava na quantidade de sabonete líquido e na temperatura. Ali era o seu único cantinho para relaxar, nem seu quarto servia mais para isso, pois lá tinha o seu notebook, e era como se o objeto tivesse uma força magnética que o puxava para trabalhar. August gostava de seu banheiro, sentia-se em paz.
       A notícia de Abeline fez seu coração pulsar mais rápido, de surpresa e de preocupação. “Será que aconteceu algo de ruim com Valéria? Por que ela me escreveu assim, do nada?”, imaginava ele. Por alguns instantes pensou em deixar o banho de lado e ir correndo ler a carta, mas uma vozinha vinda de sua cabeça o orientou que terminasse o banho, e que não era nada de assombroso. Simplesmente notícias de como ela estava.
       Quando Abeline entrou na cozinha, seu lugar preferido, colocou a carta em cima da mesa, com um cuidado exagerado, e aguardou o seu patrão terminar o banho. Ela não conhecia Valéria pessoalmente, só ouvia August falando dela, mas era só de vez em quando, até parecia que eram brigados, que existia um muro, uma barreira entre os dois, quer dizer, os três, pois a sua outra irmã também não dava notícias, mas essa Abeline conhecia, pois morava perto, não tão perto, mas às vezes ela ia visitar o seu velho irmão. Nenhum deles ligava, nenhum escrevia, às vezes mandavam um cartão de Natal, mas tenha dó, mandar um cartão desejando um Feliz Natal é legal, mas não é caloroso, não é tão humano.
       Por fim, August conseguiu relaxar um pouco mais, o banho o obrigava a isso. E era bom. Ficou ali por mais de meia hora, o que parecia um dia para Abeline. August bem que tentou esquecer a carta, mas era impossível. Pegou seu roupão e saiu de seu invejável banheiro, que era mais luxuoso do que de um hotel cinco estrelas, por ser tão rico em detalhes...
       August entrou em seu closet e se vestiu, estava muito formal para estar em casa, mas ele não ligava, estava tão acostumado com isso que era automático. Dava a impressão de que ele iria trabalhar, ou teria um encontro com empresários para tratar de negócios. Quando ele desceu para o salão principal a sua empregada já estava a sua espera. Com a mesma curiosidade. “O senhor demorou”, disse ela.
       – Não fique me acelerando Abeline. Estou tão curioso quanto você, simplesmente tive um dia cheio e precisava relaxar. – Abeline o olhou e pediu desculpas, e em troca ele sorriu. – Pois então, vamos ao que interessa, não é mesmo?
       – Sim – respondeu ela, prontamente. Já com o envelope em sua mão, as pontas de seus dedos suavam. Ela estava feliz por alguém ter se lembrado de August, ele precisava de companhia, precisava de amor familiar, pois ele só pensava em trabalho, trabalho e trabalho. Ela ficava um tanto preocupada com seu amigo-chefe. Gostava muito dele. Queria o ver feliz.
       August pegou a carta, seu coração pareceu dar um pulo. Ficou aéreo por alguns segundos. Num pequeno fragmento de lembranças estava Fabiano. Bem que poderia receber uma carta dele também. August nunca o esquecera. Será que ele está bem? Onde se encontra? O que anda fazendo? Ele não sabia. Fabiano sumira. August logo voltou ao seu estado normal, era a carta de sua irmã, tinha que se concentrar nela. Como ela estaria também? Qual o motivo para escrever? Abriu o envelope e desdobrou a carta. A caligrafia era muito bonita. Ele deu uma passada de olho por ela toda. E notou que alguns traços nas letras eram iguaizinhos ainda, desde quando ela era criança. Letras miúdas, mas bem feitas.
       Abeline disse para o seu patrão se sentar, e chegou mais perto dele. Ficou ao seu lado e pediu que ele lesse em voz alta. August, fitando-a de rabo-de-olho, começou ler a carta. Ele desconsiderou o cabeçalho com data, já partiu para as palavras dela e, conforme ia lendo, recordava-se de sua voz, quando ainda era moça.

       "Olá, querido irmão!
       Como andam as coisas por aí? Tudo bem com você?
Quando comecei escrever esta carta já imaginei com que cara você a leria, e antes de qualquer coisa, quero te avisar que não aconteceu nada de ruim comigo."

O Sr. August e sua empregada suspiraram aliviados, os batimentos foram minguando aos poucos. Ele olhou para Abeline. "Ainda bem que não é nada grave", falou. E continuou a leitura.

"Estou bem, mas não tão bem assim, claro, pois eu perdi uma pessoa que eu amava muito. Uma mistura de dor e alegria é o que estou sentindo agora. Dor e vazio, pela morte de Rick, o homem que eu amava de verdade.
E sinto-me, ao mesmo tempo, alegre, pois eu e ele iríamos ter um filho, mas como isso não foi possível, eu adotei uma criança. Não é demais?! E essa foi a principal motivação que tive para lhe escrever. Queria compartilhar com você. Estou feliz, posso dizer.
Gu, desculpe-me por não te escrever há muito tempo. Eu sei que você é um homem muito ocupado, não queria incomodá-lo. E aproveitando, parabéns pelo seu sucesso, me orgulho muito de você!
Não prometo te encher de cartas, mas mandarei notícias de vez em quando. Gostaria de saber o endereço da nossa irmã para lhe mandar uma carta também, pois eu perdi. Mande um beijo quando a ver. E fale que estou com muitas saudades dela também.
Ah! E não posso me esquecer de tirar um sarrinho de você. Te vi numa foto daquela revista conhecida que fala de economia, você já está quase sem cabelos. Eu ri, mas recortei e guardei para mim.
       Bom, então é isso, espero que me responda em breve. E me mande o endereço da Isa.
Sei que próximo mês é o seu aniversário, então, antecipadamente, aqui vão os meus singelos e calorosos Parabéns! Que você continue sendo um homem muito feliz e que o sucesso sempre ande ao seu lado! Pois você merece tudo de bom que a vida tem a oferecer! Muitos anos de vida! Saúde e Paz!

       Um grande beijo, Deus te abençoe sempre!

       Sua irmã, Val."

       August ficou emocionado com a carta. Abeline já estava no choro, limpando suas lágrimas com um pequeno lenço. “Que bom, ela está se recuperando da perda de seu marido, isso é muito difícil”, disse ela. August assentiu com a cabeça, ficou calado por alguns minutos e lembrou-se da época em que Abeline perdera seu marido, ela sabia o que era isso.

terça-feira, 30 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 7

7

Um mês depois, ainda com tamanha melancolia, a voz de Ricardo sussurrava-lhe a mesma frase, principalmente na hora de dormir. Valéria estava achando que enlouquecera, mas tinha certeza de que era por causa da morte do seu amado. Não. Eu não estou louca... Só o amava muito, a ponto de acreditar que, mesmo depois de um mês, ele viria. Viria para mim, para ser meu novamente... 
        Valéria acordou tarde, coisa que ela não fazia antes de perder o Ricardo. Sua alimentação saíra do ritmo. Comia qualquer coisa e a hora que quisesse, mas nessa manhã o horário para comer quem decidiu foi seu estômago, que fez um barulho estranho, pois a última refeição que fizera, fora ontem, no almoço. 
        Ela foi preparar algo para comer. O cheiro de ovos com bacon inundava a casa. E pela primeira vez, desde a perda, Valéria sentiu vontade de comer. Vontade e necessidade. 
        Sentou-se a mesa, pensativa. E tomou uma decisão. Rápida. Certa. Feliz. Valéria deu seu primeiro sorriso num período de um mês. 
        Chegou, na manhã do dia seguinte, no orfanato mais próximo de sua casa. Ela estava bastante preocupada em relação à escola. Ligou para a diretora, horas antes, e contou o que ela desejava fazer. 
        – Então, Sra. Jane, quero adotar uma criança. Eu preciso... 
        Conversaram por quase meia hora. “Seja feliz”, desejou a diretora, dando-lhe seis meses para apreciar o seu filho, ou filha. Valéria ainda não decidira. “Obrigada Sra. Jane, obrigada mesmo”. 
        Ela estava feliz, mas sabia que sua criança cresceria sem a presença do pai, como se isso estivesse destinado, mas ela daria tudo de si para preencher o espaço dele. Valéria seria mãe e pai ao mesmo tempo. Era difícil, ela sabia muito bem disso, mas tinha que ser forte. Ela queria. Desejava. Tinha que dar certo. O amor que havia se escondido nela, começou a ressurgir, e ela o daria para o seu filho. 
        Ela estava bastante nervosa no orfanato, observando as crianças brincando. Se pudesse levaria todas e formava uma creche na própria casa. Mas isso não era possível, pois não teria como sustentá-las... Mesmo depois de horas vendo as crianças, não sabia qual iria adotar. O lugar era bem bonito. Clássico, mas ao mesmo tempo divertido. Os jardins estavam com flores lindas. E as crianças brincavam. Olhavam Valéria às vezes, com um sorriso extremamente contagiante. São lindas demais, pensava ela. 
        A diretora do orfanato, uma velha simpática, andava com ela, apresentando o lugar e expondo as crianças. Contava-lhe também sobre a história do lugar, e a felicidade que ela sentia em acolher aquelas crianças. “Vinte e cinco anos, minha querida, são vinte e cinco anos que eu venho acompanhando isso, fazendo esse trabalho”, dizia. Valéria achava isso muito bom, pois também era apaixonada pelo que fazia. Estar ao lado das crianças era muito bom. E agora, ela teria a sua própria criança. 
        Tudo estava acontecendo normalmente, até que a responsável pelo orfanato recebeu um chamado, em sua sala. Valéria fora convidada para acompanhá-la, e aceitou. Subiram a escadaria central, Valéria imaginava o seu interior totalmente diferente, não era tão moderno como havia pensado, mas era muito bonito. O chão, de tão limpo que estava, refletia sua imagem, quase que com perfeição. Ao longe ela avistou um grande relógio em cima de uma porta. Deve ser o pátio de recreação das crianças, adivinhou, pois a Sra. Neele havia comentado. Agora andavam num corredor largo. Via também uma escada logo ao fim desse corredor. Os quartos, pensou, pois lembrava da descrição feita pela velhinha. 
        – Se as crianças tentarem aprontar, por exemplo: sair do quarto fora do horário, terão que passar por minha sala – dissera ela com um sorriso. – Mas isso não acontece, são bem obedientes – acrescentou brincalhona. 
        Chegaram a uma porta aberta, onde se lia, logo acima: DIRETORIA, e com letras semelhantes às de convites de casamentos estava o nome da diretora, escrito em preto, contrastando no prata. 
        A Sra. Neele sentou-se em sua cadeira, muito confortável por sinal, e pegou o fone, que estava na mesa, sua ajudante, uma jovem moça, havia deixado ali, à espera. Ela colocou-o no ouvido, e olhou para Valéria, com seus olhinhos verde-escuros. 
        – Alô? 
        – Oi, eu encontrei uma criança abandonada num jardim, aqui na Rua 19... 
        – Quem fala? – perguntou a Sra. Neele, preocupada. 
        – Eduard! Mas isso não importa agora! Por favor, venham rápido, é um bebê recém-nascido... –         Eduard falava com certo desespero. 
        – Você já acionou a polícia? 
        – Sim, mas logo pensei em vocês também. Vou lhe passar o endereço... 
        Ele começou a citar. 
        – Tá! Rua 19, não é mesmo? Estou a caminho... – informou a Sra. Neele. 
        O telefone ficou mudo. 
        – Você vem com a gente? – propôs ela. Valéria estava um pouco assustada com o que ouviu, e num movimento involuntário, balançou a cabeça positivamente. Sem dizer nada. 
        – Ótimo – disse a dona do Orfanato Pequenos Anjos. – Gabriele! – chamou, elevando um pouco o volume de sua voz, e prontamente a jovem apareceu. Aparentava ter uns vinte anos, não mais que isso pelo menos. Era branca, a pele aveludada, olhos castanhos, grandes, e um queixo fino. Vestia-se muito bem, e estava óbvio que ela era extremamente educada. 
        – Sim. O que deseja, senhora? – perguntou ela. Sua voz era doce. Calma. Sua boca era perfeita, carnuda e vermelha. – Sim, chamarei, só um minuto – respondeu ela, quando a Sra. Neele pediu para que ela fosse até a enfermaria e chamasse alguém. 
        Quando ela já estava saindo da sala, a Sra. Neele a chamou novamente: 
        – Por favor, solicite o motorista também. Tá certo? 
        – Claro. Com licença. – E saiu. 
        Que perfeita essa moça – pensou Valéria. 
        Logo que o carro estava pronto elas saíram da sala.         

        A Sra. Neele estava ao lado do motorista, e no banco de trás encontrava-se, ainda assustada, Valéria e uma jovem enfermeira que a acalmava.  Valéria não se sentia muito bem ao lado de uma enfermeira. Isso a lembrava hospital, coisa que ela não gostava nem um pouco. Tinha sorte, pois raramente tinha que ir. Ainda bem
        Depois de longas ruas, o carro entrou na próxima curva, à direita, onde tinha uma placa indicando: Rua 19. E não muito distante, via-se um garoto acenando com uma mão, e a outra segurava algo enrolado num lençol branco, que estava sujo de sangue. Era o bebê. 
        Encostaram o carro próximo às viaturas. Os policiais estavam tomando as providências. 
        O coração de Valéria bombeava tanto, que parecia que ia explodir naquele momento. Ela estava ruborizada. “Calma”, falava a enfermeira. “Está tudo bem”. 
        Ao ver aquela criança chorando, nos braços de Eduard, e depois nos braços de um dos policiais, ela se emocionou bastante, e começou a chorar. Pois, se tudo corresse como ela estava pensando, e querendo, a indecisão de qual criança adotar, já fora exterminada, pois Valéria já estava apaixonada por aquele bebê... 
        – É de cidadãos assim que a sociedade precisa. Parabéns, acabou de salvar uma vida – disse um dos homens fardados. 
        – Obrigada meu jovem – agradeceu a Sra. Neele. – Você fez a coisa certa. O Orfanato Pequenos Anjos agradece também. 
         – Imaginem. Eu que agradeço. Não poderíamos deixar este bebê aqui. Obrigado! – O rapaz tinha os olhos esbugalhados. Estava assustado, mas feliz. 
        Os PM’s cuidariam do caso primeiramente, depois envolveriam o orfanato na história, e daí sim, Valéria poderia chamar aquela criança de “meu filho”. 
        A enfermeira Liza entrou no carro junto dos outros, estava tranquila porque o bebê estava em boas mãos. A senhora de cabelos ruivos deu as últimas palavras com Eduard, e depois falou com um policial. 
        No carro, Valéria pensava naquela pequena criatura. Desejando-a. Ricardo ria, em seu pensamento. “Ele é lindo”, disse ele. Valéria ficara mais feliz, seus batimentos iam cessando aos poucos. 
        
Dias passaram-se, e Valéria teve sucesso na adoção. Ela estava explodindo de alegria. Nunca imaginara como era tão bom ter um filho para cuidar. Tudo bem que ela já cuidava de muitas outras crianças, mas essa era dela. Era o filho dela! Todos os seus amigos visitavam o bebezinho, principalmente as crianças. Eles riam com as caretas do bebê. Queriam passar a mão nele e cheirar seu cabelinho. Valéria estava mais feliz do que nunca. 
        Depois de aprontar o seu filho, Valéria pegou um papel e sua caneta preferida. E com uma caligrafia de dar inveja, ela começou escrever uma carta. 
        – Faz tanto tempo que não nos falamos – disse para si mesma.

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 6


6 
– Rick, não estou acreditando! – a voz de Valéria ficara alta, seu sono havia ido embora. – Rick, você não sabe quanto tempo eu... Onde você está? 
        – Valéria, estou aqui em Lisboa ainda... 
     – Por que você não me ligou mais? – ela interrompeu-o. Seu coração ainda acelerado, mas bastante contente, parecia não caber em seu peito. Imagens de um ano atrás percorreram sua mente. Aquele incidente. Aquele encontro desastrado. A bolada – ela riu em pensamento. – Por que você não ligou? 
        – Bem – começou ele com a voz tremida. – Você terminou comigo. Tomou uma decisão na sua vida. Eu já não fazia mais parte dela. Então, como um bom fracassado, eu aceitei a derrota. Não dei notícias porque pensei que não me amasse mais... Valéria, hoje de manhã, quando eu acordei, a primeira coisa que eu pensei foi naquele encontro que tivemos, quando nos conhecemos, lembra? 
        – Aham. 
        – Então, quando cheguei aqui, não parava de pensar em você, não dava para controlar, até que foi cessando, eu admito, mas hoje, mas hoje foi diferente. Acordei pensando em você e querendo te ver a qualquer custo. Valéria, eu ainda a amo muito! 
        Os olhos dela encheram-se de lágrimas, mas a vontade de tê-lo era tão grande que ela fez uma proposta que mudaria a sua vida para sempre. 
        – Rick, por favor... volta? 
        Ao ouvir isso, Ricardo ficou mudo. Engoliu em seco, e de última hora, ele respondeu, gaguejando. 
        – Eu volto meu amor. 
        Os dois choraram, as pulsações aumentaram e a emoção tomou conta. Ficaram uma hora no telefone. E até faziam planos. Ricardo voltaria dentro de um mês. E conforme o combinado: iriam ter um filho. “Eu, mãe? Eu vou ter um filho?” A felicidade não cabia naquela casa. Se for menino vai se chamar Anderson, e se for menina será Débora! 

Contando os dias, Valéria foi dormir ansiosa, muito ansiosa. Seu grande amor, o Ricardo, embarcaria na manhã seguinte. Seu coração, desde aquela ligação, batia de forma diferente. Era interessante e inexplicável. A doçura de Valéria aumentou. Contagiava a todos, mas ela mantinha segredo, não contara a ninguém que o seu Rick ia voltar. Era surpresa. O único homem que a merecia estava voltando. Voltando para ela. Todo dela. 
        Valéria dormiu muito tarde, embora, acordara cedinho. Sonhara com ele, estava feliz da vida. Ricardo, só iria ligar quando estivesse no aeroporto do centro da cidade, só para Valéria ficar na expectativa. Ela já havia pensando no cardápio. Lasanha. Ricardo adorava sua lasanha. 
        Na noite passada, ela também pensou em que horas mais ou menos ele ia sair de Lisboa. Acho que às onze horas. É isso, onze horas. Ela estava tão feliz por falar com Ricardo que, quando ele falara o horário, ela nem prestou atenção. Não quis ligar novamente, tinha decidido que só falaria com ele agora, pessoalmente. Não vejo a hora! 
        Horas depois o aroma da sua comida era embriagante. Tomava toda a casa. Valéria agora estava num banho gostoso e relaxante, com o sorriso no rosto. O banho terminou e ela foi para a sala e ligou a TV como de costume, e agora pensava na sobremesa. 
        – Bolo? Uma torta, que tal? Ahm, mas ele não resiste meu pudim! Farei pudim! – resolveu. 
Enquanto ela se deliciava pensando no que fazer, uma notícia urgente passava na televisão. Sua atenção foi chamada. Ela foi até seu aconchegante sofá e aumentou um pouco mais o volume da TV. A moça bonita, repórter internacional do jornal, estava falando da queda de um avião que partira de Lisboa. 
        – Lisboa?! – gritou Valéria. Ela deu um pulo. Levantou-se. Fechou os olhos e depois continuou vendo a matéria, mesmo sem querer. A jovem repórter estava comunicando que não houvera sobreviventes. Não pode ser! Era uma notícia catastrófica. 
        – Não pode ser. Rick, meu Rick. Não pode ser! – Valéria já imaginava coisas. Saiu cambaleando atrás de seu celular, para ligar para Ricardo. Tentou três vezes, mas não obteve resposta. Mas a cruel verdade era indiscutível, ela não queria acreditar, mas não dava para mudar, a fatalidade com o seu amor havia acontecido. Ricardo estava naquele voo. – Nenhum sobrevivente – a voz da moça repetia-se mentalmente em sua cabeça. Lágrimas e mais lágrimas rolavam em seu rosto. E assim foi por uma semana inteira. A doçura de Valéria havia sumido. A dor apossou-se dela, tornara-se sua companheira nesses dias. Difíceis dias. 
        O seu cérebro fotografara a imagem de Ricardo, seu único amor, num caixão. E essa foi a última vez que ela o viu. Amava-o ainda, mesmo sabendo que ele não estava vivo. A sua voz ainda estava gravada na mente. "Querida, quero ter um filho com você!", "Vamos ter um filho... um filho..." – e a inconfundível voz sumia como se fosse vapor. Isso a perseguia, aumentando sua dor. Valéria continuava só, sempre estivera, mas agora era diferente. Encontrava-se fraca, melancólica e, indiscutivelmente, arrependida. Arrependida por não ter se entregado a Ricardo na hora certa.

sábado, 27 de julho de 2013

PROMOÇÃO #2 - O Silêncio dos Inocentes! RESULTAAADO!

Chega de tanto suspense e mistério... Agora é a vez de Thomas Harris fazer isso!

Parabéns ALINE SILVA!



Adorei o seu comentário. Foi simples e certeiro, pois duas coisas me "conquistaram".

Independente da sua deficiência física (e não há apelação nenhuma nisso, fique tranquila), você disse que "...eles me fazem viajar e ultrapassar os meus limites..." [referindo-se aos Livros], e "São os meus melhores amigos..."

Se tem uma coisa que admiro, é a amizade entre os seres humanos e os Livros!

Agradeço a todos que fizeram um esforcinho e deixaram seus comentários na Promoção!
Obrigado! E espero que cada um de vocês possam se aventurar nessa estória um dia!

Deixem seus blogs (se tiverem), nos comentários, para que eu possa visitar, pois com certeza, pessoas como vocês devem escrever muito bem (tanto quanto os comentários). E não quero perder a oportunidade de conhecê-los... então, deixem seus contatos do Skoob também...

Abaixo, o comentário vencedor:

"Desejo ganhar esse livro porque simplesmente estou louca para ler ele. Não é a toa que é um dos meus desejados no Skoob. Sem querer apelar, mas preciso dizer a verdade, os livros me ajudam, pois sou deficiente física, e eles me fazem viajar e ultrapassar os meus limites. São os meus melhores amigos, com certeza! s2"

Muitos thanks pra vocês!

E Aline, espero que goste do Livro!!!

Abraços a todos!
Até àqueles que me ameaçaram nos comentários, hehehe... adorei! ^^

quinta-feira, 25 de julho de 2013

NEIL GAIMAN

Escolher cinco livros é como escolher cinco partes do corpo que você não gostaria de perder.
Neil Gaiman 
    Essa é uma das mais célebres citações que eu já tive o prazer de ler deste autor. Para quem já leu em meu blog, neste mês eu tentei ler o máximo que pude sobre o mesmo autor, então pensei que o que poderia ser mais interessante que começar a tag de "Autores" com o próprio, Neil Gaiman.
    Neil Richard Gaiman nasceu em Portchester, Inglaterra no dia 10 de novembro de 1960. Entre suas principais obras está a história em quadrinho Sandman, como também os romances Lugar NenhumDeuses Americanos e muitos outros.

    Como muitos autores, Gaiman, antes de nos apresentar todo este talento, foi rejeitado por diversas editoras, até que o mesmo adotou o jornalismo como um meio de transmitir o que queria escrever e assim se iniciou sua fase, cheia de críticas literárias e etc. Na década de 80 escreveu Don't Panic: The Official Hitchhikers Guide to the Galaxy Companion, que talvez tenha sido o que fez ele iniciar sua carreira de sucesso, para quem não sabe, na Inglaterra, O Guia do Mochileiro das Galáxias escrito por Douglas Adams é um dos romances mais importantes da história e para os nerds também, mas ai teríamos de ter outro post e estamos falando do Neil.
   Eu acredito que o que o escritor lê, define o próprio de diversas maneiras e vemos nele um exemplo deste, na odelescência, ele lia CS Lewis , JRR Tolkien , Lewis Carroll , James Branch Cabell , Edgar Allan Poe , Michael Moorcock , Ursula K. Le Guin , Harlan Ellison , Rudyard Kipling , Lord Dunsany e GK Chesterton . Mais tarde, ele se tornou um fã de ficção científica, a leitura de obras de autores tão diversos como Alan Moore , Samuel R. Delany , Roger Zelazny , Robert A. Heinlein , HP Lovecraft , Thorne Smith e Gene Wolfe. O que mostra seu incrível talento para histórias ficticias e séries como Doctor Who, que já foi roteirista de certos episódios e Babylon 5.
   
As vezes podemos escolher o caminho que seguimos. As vezes nossas escolhas sao feitas por nos. E as vezes nos nao temos escolha nenhuma ...
Neil Gaiman

   Gaiman tem uma escrita magnífica e é do tipo que incentiva o seu leitor que é escritor, apenas veja as suas dicas para escrever e você entende na mesma hora o que estou dizendo:

    1. Escreva.

    2. Coloque uma palavra depois da outra. Encontre a palavra certa, coloque-a no lugar.

    3. Termine o que estiver escrevendo. O que quer que precise fazer para terminar, termine-o.

    4. Deixe-o de lado. Leia fingindo que nunca o leu antes. Mostre-o para os amigos cujas opiniões você respeita e que gostam do tipo de coisa que isso é.

    5. Lembre-se: quando as pessoas dizem que algo está errado ou que não serve para elas, provavelmente estão certas. Quando lhe dizem exatamente o que está errado e como consertá-lo, provavelmente estão erradas.

    6. Conserte. Lembre que, cedo ou tarde, antes que isso chegue a alcançar a perfeição, você terá que deixá-lo e seguir em frente e começar a escrever a próxima coisa. Perfeição é como perseguir o horizonte. Continue se movendo.

    7. Ria das suas próprias piadas.

    8. A regra principal para se escrever é que se você faz com suficiente segurança e confiança, poderá fazer o que bem quiser. (Isso pode ser uma regra para vida assim como para a escrita. Mas definitivamente é certa para a escrita.) Então escreva sua história como ela precisa ser escrita. Escreva-a honestamente e conte-a o melhor que puder. Não estou certo que existam quaisquer outras regras. Não alguma que importe.


   O autor é o típico exemplo de que se você persistir consegue, antes de seus livros, conseguiu se tornar amigo de Alan Moore, um grande quadrinhista, e começou a fazer roteiro para diversas histórias em quadrinho e assim moldando o seu talento, conseguindo a atenção de muitos. Além de Sandman já dito, vemos Orquídea Negra, Sinal e Ruído, A Comédia Trágica Ou A Trágica Comédia de Mr. Punch, Coraline que se tranformou em filme, algumas do Batman e muito mais, a lista dele é enorme.
   É outro exemplo de flexibilidade, podendo ver em seu currículo, contos, poemas, romances, novelas, roteiros e histórias em quadrinho. Assim como um fã destas artes, pelo que parece ele também é um curtidor da cultura japonesa, tendo escrito o script para a língua inglesa do filme A Princesa Monoke de Hayao Myiasake, outro nome memorável.  
   Como muitos ecritores blogueiros, como eu e meu amigo José Igor, durante seu livro Deuses Americanos, o mesmo abriu um blog e até hoje utiliza o mesmo, clique aqui para ver.
    
   Por sua criatividade já ganhou prémios como Fantasy World Award em 1991 pela revista Sandman - Sonho de uma Noite de Verâo (parte do arco de histórias intitulado Dream Country), e2003Coraline recebeu o prêmio de melhor novela, em 2004, seu conto Um Estudo em Esmeralda ganhou um outro Hugo, entre outros.
    Algo que me orgulho deste autor é que ele não sente vergonha ao dizer que se baseou em alguém, nos livros Coisas Frágeis Vol. 1 e Vol. 2, você vê muito disso, ele diz que pedem a ele contos e etc e com estes pedidos ele tira ideias de autores e etc. São dois livros interessantes de se ler por você descobrir mais sobre Neil e por ser uma leitura rápida de contos, cronicas e poemas.
   Acho que é isso que eu posso dizer sobre ele, mas um detalhe que eu gostaria de acrescentar é que: Se você é um escritor iniciante, não desista fácil, Gaiman ou seja lá qual for seu ídolo mostram que não é facil, mas também não é dificil. Este autor apenas mostra que dos fãs surgem os artistas, ele não é tão especial assim, ele é como você, como eu ou qualquer um, apenas um jovem sonhador escrevendo seus sonhos. 
    Isso me faz lembrar que em uma conversa, José Igor disse que talvez seja uma lei de todo autor deixar seu trabalho de lado e depois pegá-lo novamente e eu apenas recomendo ler o conto Noivas Proibidas dos Escravos sem Rosto na Casa Secreta da Noite do Temível Desejo do livro Coisas Frágeis Vol. 2 e também os comentários do autor, ele diz que depois de terem dito "Esse conto não é o estilo de ninguém" ele deixou de lado e agora, há pouco tempo, ele admitiu que não era, mas que poderia ser. E publicou. Então, sonhe, escreva o que quiser, ignore as criticas ruins e conserte do seu jeito. Então. Você. Consegue.

As pessoas pensam que sonhos não são reais apenas porque não são feitos de matéria, de partículas. Sonhos são reais. Mas eles são feitos de pontos de vista, de imagens, de memórias e trocadilhos, e de esperanças perdidas.
Neil Gaiman
Créditos ao sr. Junno, do blog: http://lugarnenhumnopais.blogspot.com.br/!Aceeeeeeessem!!!

Parceirinho Junno!

Olá pessoal!

Convidei um amigo para me ajudar com o Blog. E ele aceitou. Estou falando do Junno!

Sempre achei que ele tem talento para escrever, então, vou divulgar alguns textos dele aqui pra vocês! Espero que gostem!

E bem vindo Junno!!!

Para conhecer melhor os textos dele, acessem seu blog aqui!!!

Boas leituras meus amigos!