O CÚMPLICE
E O ASSASSINO
J. Igor
PRIMEIRA PARTE
1
As crianças corriam para todos os lados, brincando de se esconder. Subiam nas calçadas, tentavam inutilmente ocultar-se atrás de postes, agachavam-se perto de contêineres, subiam em pequenas árvores e alguns até entravam em casa. Uma delas estava correndo tão rápido que levou um tombo, e caiu não só no chão, como no choro também.
Não demorou e apareceu uma mulher que o apanhou do chão, ainda aos berros. As outras crianças estavam em volta para ver se o amiguinho havia se machucado. Uma garotinha com cabelos loiros cheios de pequenos cachos se aproximou e passou a mãozinha no braço dele, dizendo:
– Não chora Zequinha.
Da sua janela, Valéria apreciava aquela cena, pois amava crianças. Saiu de casa e foi em direção ao menino machucado, cumprimentou a mãe dele e abraçou as outras crianças, que riam sem censura.
– Olá – disse ao garotinho machucado, que agora soluçava e passava as mãos no rosto molhado pelas lágrimas.
Ele deu um pequeno gemido em resposta.
– Ah, não vai dar um beijinho na tia Val? – perguntou. Porém, o menino só coçou o olho, desajeitado.
– E então, querido? – perguntou a mãe dele.
Zequinha balançou a cabeça positivamente e esticou os braços para Valéria, que o pegou no colo. Ela deu um beijo em suas bochechas e ele sorriu finalmente, esquecendo-se da dor causada pela queda.
A mãe do menino sorriu para os dois e ficou admirada com o carinho que Valéria tinha pelas crianças. Sabia lidar com elas muito bem, embora não tivesse uma.
Valéria era uma mulher decidida e muito dedicada. Tinha trinta e cinco anos e nunca havia se casado, pois seus poucos romances não duravam muito. Ela não gostava de homens machistas e autoritários mas, talvez por azar, só conheceu homens assim.
Ela morava sozinha numa casa bonita, porém, bem simples. Quase todo mundo em Vila Pequena a conhecia e gostava muito dela, pois era uma pessoa muito gentil. Sempre ajudava aos próximos, era ótima companhia para conversas e boa conselheira.
Os bracinhos de Zequinha passavam pela parte de trás do pescoço de Valéria, fazendo com que os seus cabelos castanhos ficassem bagunçados.
– Ele vai ficar bem, professora Val? – perguntou um menino de cabelos pretos e lisos, e definitivamente um tanto bochechudo.
– Sim, Guiu, mas é claro!
– Tia Val, você gosta tanto da gente... Por que você não tem um filhinho?
– Ahm? Como assim? – perguntou ela, mesmo que entendendo a pergunta.
– Ah, professora, um filhinho. Um amiguinho pra gente brincar. Faz um...
Valéria riu. Adorava a inocência das crianças.
– Tchau, meus pequenos! – disse ela, despedindo-se. Valéria foi pra casa com uma emoção diferente. Seu coração pulsava mais rápido, ela sentia isso. Mas por quê?
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