terça-feira, 23 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 2


2 
Há mais ou menos um ano, Valéria caminhava pela praça central da cidade, com um vestido longo e florido que combinava com a paisagem primaveril. Sempre dava esses passeios para relaxar, e a praça oferecia um ambiente calmo e relaxante. Aquele lugar era incrível. A pessoa poderia ter qualquer tipo de problema, mas ali, parecia que eles se evaporavam. 
        Naquele dia, a pista de caminhada estava lotada. Do outro lado, ciclistas suados passavam, alguns arriscando pequenas manobras, executadas com perfeição. 
        Valéria agora olhava um garoto de skate, pequenino ainda, recebendo algumas dicas de um adolescente, que aparentemente era seu irmão. Ela fechava os olhos quando o menino caía, mas ele ria como se não tivesse acontecido nada. O rapaz o levantou e perguntou se estava tudo bem, e a criança sem responder, subiu no skate e já ficou preparado para mais algumas dicas, e para a próxima queda. 
        Ela ficara ali contemplando a paisagem mais um pouco. O vento surrava seus cabelos, que brilhavam com a luz do Sol. 
        Valéria levantou-se de seu banco favorito e se virou para a direção aonde caminharia quando, de repente, chocou-se com alguém. Seu corpo pendeu para trás, mas a pessoa agarrou sua cintura gentilmente e a ajeitou na posição correta. Quando ela viu a pessoa, acabou soltando uma exclamação, admirada: tratava-se de um homem alto, forte e bem vestido, quase um galã de televisão. 
        – Você está bem? – perguntou ele. Recuperando-se, ela respondeu um “aham”, desajeitada. – Me desculpe – falou o homem, agora suavemente. Uma gota de suor deslizava por sua testa. – Eu estava andando e... minha cabeça estava em outro lugar... eu sinto muito. 
        – Não... imagina, fui eu quem... – ela fez uma pausa e deu um suspiro – É minha culpa, fui eu que me levantei de repente. E... me desculpe. 
        Valéria nunca tivera tanta dificuldade para falar com alguém. "O que está acontecendo comigo?" 
        O homem elegante olhou-a e, apressadamente, disse: 
        – Tudo bem, então... hmm... tenha um bom dia, senhorita. – E virando-se vagarosamente, voltou ao caminho que estava fazendo. 
        – Ei! 
        O homem, ainda à vista, virou-se para a direção dela um tanto surpreso. Mas não tão surpreso quanto a própria Valéria – O que você fez? – sussurrou para ela mesma, não acreditando no que tinha feito. 
        – Sim? – ele chegara perto. 
        – É – falou ela de início, se atrapalhando com as palavras. E fazendo um pouquinho de esforço, conseguiu dizer algo. – Então, qual o seu nome? 
        – Meu nome? Me chamo Rick... quero dizer, Ricardo Talles. 
        – Ah, então Ricardo... tá calor, né? 
        Valeria queria cometer um suicídio quando disse isso. Disse sem pensar, involuntariamente. "Qual é o meu problema?" se perguntava. 
        – Está muito calor mesmo. E o seu nome, qual é? 
        – Ah, meu nome, me desculpe, esqueci de me apresentar. Chamo-me Valéria – ele estendeu a mão direita para ela, que olhou por alguns segundos, e quando a realidade tocou-a, pois um ciclista havia gritado, dando-lhe um pequeno susto, ela apertou, toda atrapalhada. – Prazer. 
        – Prazer – disse ele em resposta. 
        Ela soltou a mão dele e deu uns risinhos. Ele também fez igual. Logo depois da cena boba Valéria olhara direito para ele. Terno? Maleta? O que um homem tão elegante está fazendo aqui na praça? E nesse calor? 
        E como se Ricardo tivesse lido seus pensamentos, pôs-se a dizer: 
        – Então, é, eu estava no escritório, ahm, tive uma reunião e... – ele parou, Valéria o fitava. Mas não percebia que estava quase hipnotizada. – Me desculpe pela pergunta, mas, por que você me chamou? 
        O coração dela disparou. “Estou me perguntando a mesma coisa também. Por que eu te chamei?” 
        – Bom – disse. – É que eu não costumo “trombar” com as pessoas no meio da rua, e então eu queria pedir desculpas novamente. E... 
        – E? 
        – Ai, me desculpe. 
        – Não foi nada – disse Ricardo, calmamente. – Você parece confusa. Tá tudo bem? 
        – Você parece confuso também – disse Valéria. "Cale a boca sua louca!", advertia-se. – Bem, é, continue... o que dizia sobre a sua reunião...? 
        – Pois bem – começou ele. – Eu tive uma reunião agora a pouco, e as coisas não saíram tão bem – Ele pigarreou, mas logo se pôs a explicar. – E para esfriar um pouco a cabeça, decidi vir aqui. É um ótimo lugar, não acha? 
        Valéria o contemplava. Ele era muito bonito, pensava. Terno cinza, óculos de armação preta, tinha acabado de fazer a barba e tinha uma voz bonita.  “E os olhos? Que olhos verdes lindos!” 
        – Ah é, sim, é um ótimo lugar – ela respondeu e depois parou. – Lindo! – completou. 
        – Lindo? – ele perguntou, fazendo-a ruborizar. 
        – Hmm, sim, é isso, lindo! É um lugar lindo. Lindo mesmo. 
        E inesperadamente, Ricardo brincou: 
        – Ah, pensei que estivesse se referindo a mim... 
        – Não – respondeu Valéria. – Quer dizer, sim. É... eu... – atrapalhou-se novamente. 
        Ricardo não aguentou e deu risada. E ela, sem saber o que fazer para corrigir, o imitou. Estava nervosa, não conseguia relaxar muito bem. Os risos cessaram, e o clima anterior voltou. Valéria respirou fundo, e decidiu explicar. 
        – Quando eu falei lindo, eu me referi ao lugar. Eu estava falando sobre a praça, entende? 
        – Foi só uma brincadeira – disse ele com um risinho. – Me desculpe. 
        – Ah, tá legal – ela disse, mas seu pensamento foi longe demais. “Você é lindo tanto quanto este lugar”. Houve um pequeno silêncio. Parecia uma cena de filme romântico, mas o inesperado aconteceu: uma bola colorida, semelhante à de praia, só que menor, atingiu a sua cabeça, obrigando-a a fazer um movimento engraçado. Sua cabeça foi um pouco para frente e, nada educadamente, Ricardo gargalhou. 
        Ouviu-se um “desculpa moça” vir de lá de trás. A bola ainda quicava na grama. Ela olhou para o pequeno garoto que a acertara e disse que não tinha acontecido nada. Algumas pessoas também riam daquele lado. Ela virou-se para o seu mais novo conhecido e advertiu-o com o olhar. Ele parou segundos depois. 
        – Me desculpe, é que... você está bem? 
        – Estou. Não foi nada. 
        Ricardo, segurando-se para não rir mais, convidou-a para ir a algum lugar. 
        – O quê? – perguntou ela, abobalhada. Por um momento pensou em rir também da cena, mas se conteve. – Sair? É, pra onde? 
        – Sei lá, poderemos tomar um sorvete. O que acha? 
        Valéria concordou, pois fazia muito calor e adorava tomar sorvete. Mas concordou não somente por isso, e sim para conhecer melhor o “Rick”. Homem agradável. Educado e alegre. Charmoso e bonito – ela não parava de pensar. 
        Aparentemente Ricardo era uma boa pessoa e conversava muito bem, pois como era gerente, tinha essa facilidade para falar com as pessoas. Sua companhia era agradável. Ele era o tipo de pessoa fácil de lidar. E encantador... 
        O namoro durou alguns meses, sob o status: firme... Mas o tempo sempre muda as coisas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário