quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Cúmplice e o Assassino - Capítulo 10

10
Semanas depois, a casa de August estava toda decorada, com uma elegância hipnotizadora. Laços enormes em dourado, fitas amarelas amarradas no teto, saindo de um ponto e se espalhando pelo salão, como se fosse um lustre gigante. Foram instaladas poltronas e sofás para que os convidados ficassem muito bem acomodados. Os garçons já estavam à disposição e eram inteiramente precisos.
        Aquela era para ser a festa do ano, porém, o milionário não gostava disso, tudo foi feito nos conformes, com um planejamento rigoroso, principalmente o cardápio daquela noite, mas ele queria somente os colegas de trabalho, só os mais íntimos, nada de festança. “É simplesmente um jantar”, dizia, embora não houvesse nada que se encaixasse em “simples” ali.
        Todos os anos eram assim. “Não é uma festa Abeline, é somente um jantar”, falava August para sua empregada, que em resposta dizia: “Eu sei, e tudo deve estar perfeito! O senhor merece!”
        Os convidados, que não eram muitos, começaram a chegar lá pelas seis horas da tarde, quando o céu já estava quase escuro. Algumas pessoas eram pontuais e outras chegavam um pouco atrasadas, sempre dando uma explicação para Abeline, que ficava a porta para recebê-los.
        Um casal mais bonito que o outro passava pela entrada. Abeline ficava encantada com tanta elegância. “Por aqui, por favor”, dizia, conduzindo-os até o salão, exageradamente decorado, onde se encontrava o aniversariante.
        O senhor August era cumprimentado sem parar, já estava até com dor nas bochechas de tanto sorrir, mas estava bom, ele precisava disso mesmo.
        Os convidados eram conduzidos por garçons até suas mesas, enfeitadas com muito requinte. O cardápio de pratos quentes era constituído com a deliciosa culinária francesa, combinando com os mais deliciosos vinhos chilenos. Tudo de primeira. Feito por cheffs altamente qualificados, como os convidados podiam perceber ao saborear a comida.
        Depois de tantos cumprimentos e desejos de felicidades, August enfim, pode se sentar e relaxar um pouco, alguns já haviam começado a degustar as deliciosas refeições, e outros esperavam por August. Enfim, o banquete estava apenas começando.
        O pessoal esbanjava elegância, e elogiava o ótimo gosto que August tinha para a culinária.
        Ele, por um momento pensou em Valéria e Isadora comendo num pequeno restaurante que frequentavam muito antigamente, por mais que August fosse pobre, tinha as artimanhas com os talheres e tudo o mais, ele nascera assim, educado e fino. Elas, sem o menor jeito, deixavam a comida cair para fora do prato, mas ainda eram crianças, August ria quando isso acontecia. Tinha dia que ele gastava o seu salário todo ali, mas não abria mão de mostrar o melhor para suas pequenas irmãs, e para seus pais também, que eram pessoas um tanto humildes, porém felizes por terem August, o Gu querido deles.
        A imagem que ele tinha em mente foi se dissolvendo e aos poucos foi se convertendo em um salão, mais luxuoso ainda do que o que ele havia frequentado naquela época. Agora estava no seu salão, com todo o pessoal convidado. Rindo e degustando o banquete de realeza.
        Minutos depois Abeline chega até a entrada do salão, com uma expressão estranha. Pavor ou excitação? August não sabia dizer. Ela o fitava de longe, e ele, muito discretamente levantou-se, pedindo licença aos presentes, que assentiram. August rumou-se à sua empregada, e logo foi percebendo que o que ela tinha era uma espécie de alegria, que parecia não caber nela. Menos mal, não era algo ruim, mas Abeline estava um tanto esquisita. Ele chegou até ela categoricamente. E disfarçadamente pediu que o seguisse até a sala de estar.
        – Desculpe senhor, mas não pude deixar para depois.
        – O que houve Abeline?
        – Não se espante Sr. August, o senhor receberá um presente e tanto esta noite, não é material, mas o senhor vai adorar, eu tenho certeza.
        – Mas que diab... Abeline, me fale logo.
        – É um telefonema Sr. August. Já repassei a ligação para o seu quarto, ande, não espere.
        – Bem, mas... tá bom, vou subir.
        August começou a subir os degraus um pouco mais rápido que de costume, e a sua empregada foi acompanhando-o sem ser convidada, mas tudo bem, August não ligava, pois fora ele quem dera toda liberdade a ela.
        Chegaram ao quarto, ele pegou o fone e o pôs no ouvido, e antes de falar qualquer coisa ele olhou para Abeline, esquecera de perguntar quem era. “Surpresa”, sussurrou ela.
        – Alô – August disse.
        – Oi – respondeu uma voz que ele não identificou de início, mas era familiar, o timbre talvez, mas ele não sabia ainda. – Gu, é você?

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