segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O CÚMPLICE E O ASSASSINO - Capítulo 17

17
Alvoreceu vagarosamente. Juliet rolou um pouco em sua cama e abriu os olhos. Seus músculos estavam descansados e sua cabeça já não dava mais aquelas incomodáveis latejadas. Olhou para o seu relógio na cabeceira da cama e viu que já se passara da hora de acordar. Era quase hora do almoço e ela estava faminta. “Acho que vou sacrificar o café da manhã e vou logo almoçar”.
            Após escovar seus cabelos, retirou-se preguiçosamente do quarto. Quando já estava no meio da escada lembrou-se de algo: escovar os dentes.
            Correu para o banheiro do seu quarto. Ouviu a voz de Abeline na grande sala. “Juliet, já acordou? Você está bem?”
            A moça não respondeu. “Daqui a pouco eu desço”, pensou.
            Juliet colocou a escova com o creme dental na boca e logo sentiu o delicioso gostinho de menta. Como um choque ela recordou-se do licor.
            – Meu Deus! Será que eu sou uma alcoólatra agora?
            Ela ficou pensativa e preocupada, mas era bobagem, todo mundo no mundo já bebeu um pouco, pelo menos. “Sou mais uma”, pensou, tentando se reconfortar. De tanto ficar pensando, teve o desejo de sentir pelo menos uma gotinha daquela bebida maligna e deliciosa ao mesmo tempo. “Pare Juliet!”
            Desceu as escadas com pressa. O almoço estava quase pronto. Encontrou Abeline na cozinha. Deu-lhe o beijo matinal e sentou-se.
            – Está se sentindo bem, querida?
            – Sim, tia Be.
            O silêncio continuou. Até que Abeline comentou sobre seu filho. “Ele está bem estranho. Depois do divórcio ele ficou tão diferente”.
            – Relaxe tia Be. A senhora sabe como manter o controle sobre as coisas... E o titio?
– Ah, ele foi à Metal, saiu bem cedo e disse que depois ia passar na casa de Fabiano para conversar um pouco.
– Entendi. Tia Be... Estou pensando no que foi combinado ontem com o Sr. Kind.
            – Não o chame assim, minha filha.
            – Brincadeira. Então, vou convidar meus amigos para vir aqui hoje, o que acha?
            – Por mim tudo bem.
            – Será que meu tio deixa...
            – O quê? – disse Abeline, pois Juliet parou para pensar um pouco. – Dormirem aqui? – sugeriu.
            – Isso! Será que ele deixa? Heim tia? Você me ajuda?
            – Minha filha, você não acha que é cedo demais para isso? Acho que o seu tio não vai gostar muito da ideia!
            – Mas ele mesmo falou, ontem à noite, lembra?
            – Lembro-me perfeitamente, querida. Porém, dormirem aqui? Não sei não, mas podemos tentar falar com ele, né?
            As duas se abraçaram e antes que se desprendessem Abeline disse:
            – Você não perdeu seu espírito de criança ainda, não é mesmo? Parece uma garotinha pedindo para que os amiguinhos durmam na sua casa. Juliet, você ainda é uma criança, minha filha...
            – Ai tia Be, que drama. – E sorriram.
            August chegou naquela hora, acompanhado de Fabiano.
            – Boa tarde – disse Fabiano para Juliet e Abeline.
            – Boa tarde – responderam. Juliet olhou para seu tio e deu-lhe um abraço. “Boa tarde, tio”.
            As mesmas frases ditas na noite passada por ele passaram por sua mente na hora. “Que vergonha, será que o tio falou para Fabiano?”
            – Já se sente bem? – Fabiano fizera a pergunta fatal.
            “Droga, ele contou... que vergonha”.
            – Já sim, estou melhor – foi o que conseguiu dizer.
            Almoçaram todos juntos. Foi bom, tirando as partes em que August e Fabiano falavam tecnicamente, discutindo algumas pendências da empresa.
Uma lâmpada acendeu sobre a cabeça de Juliet, que lançou um olhar para Abeline, acompanhado de um sorriso malicioso. Tivera uma ideia.
            Quando August e Fabiano deram uma pausa para pegar a sobremesa, Juliet não perdeu tempo e disse: – Tio, eu estou pensando numa coisa.
            – O quê, por exemplo?
            – Sabe os meus amigos? Então, eles poderiam vir aqui?
            – Aqui? – disse o velho com tamanha tranquilidade. Juliet até achou estranho, mas entendeu o porquê dessa calmaria quando ele terminou a frase: – Podem sim, quem sabe no final do ano para que possamos passar o Natal?
            “Bem, até que não é má idéia”, pensou a moça. “Mas quero hoje, quero que venham hoje”. Respirou profundamente e disse: – Hoje. Eles podem vir hoje?
            August permaneceu calado, mastigou o resto do que tinha em sua boca e olhou para Fabiano. Juliet na hora pensou: “Ainda bem que Fabiano está aqui, ele pode me ajudar”.
            O seu tio percebeu qual a arma que ela tinha nas mãos: Fabiano. E decidiu deixar:
            – Juliet, Juliet. Você não é nada boba! Deixo sim, querida.
            – Ah, obrigada – disse ela, mas sem muita emoção, pois o pedido ainda não fora feito por completo. Respirou fundo mais uma vez e soltou o que estava preso na garganta. – Para dormirem?
            Ela quis fechar os olhos quando o seu tio se engasgou com um morango. Abeline e Fabiano ficaram em pé para socorrê-lo, porém não fora nada. Ele estava bem. Quando se recuperou do susto pôs-se a dizer: – Juliet, isso já é demais! Você só os conhece há alguns meses. Dormirem aqui é...
            – Calma – interpôs Fabiano. – Juliet, esse pessoal é confiável? São pessoas boas? Você confia neles? – Ela balançou a cabeça positivamente. – Então vamos pensar. August, – e virou-se para ele – você poderia dar um pouco mais de crédito para sua sobrinha. Ela tem vontades e você sabe disso. Tudo bem que ela ainda parece uma criança, mas é direito dela satisfazer suas vontades.
            “Não gostei da parte da criança, mas Fabiano está conseguindo mudar a idéia do meu tio, está funcionando!”
            Uma vozinha no inconsciente começou a discutir com ela: “Você deveria ter vergonha moça. Tudo que quer pede para que Fabiano resolva. Você já tem dezessete anos, sabia? Já está bem grandinha e já pode aceitar os ‘nãos’ de seu tio”.
            Quando ela decidiu desistir e pedir para que Fabiano parasse de falar, um “sim” saiu da boca de August. “Então tá, você pode trazer seus amigos aqui. Hoje. E eles podem dormir sim. Pedirei para que Abeline ajeite os quartos de hóspedes. Você venceu mais uma vez Juliet”.
            Ela encheu seu tio de beijos e abraços. – Obrigada! – disse. Piscou para Abeline e disse algo inaudível. Abeline fez leitura labial e entendeu: “Consegui, tia Be”. Ela também sorriu.
            Meia hora depois Juliet estava ao lado do telefone, pegou o número de seus colegas e começou a convidá-los:
            – Carol, eu quero que venha dormir aqui em casa hoje. Pedi para que meu tio deixasse e ele concordou. Não aceito “não” como resposta:
            – Então tá. Vou falar o quê? – e riu.
            – Tá bom, venha lá pelas sete horas da noite, para jantar. Beijos.
            Discou mais um número.
            – Olá Andrew, tenho um convite para fazer: quer dormir aqui? Tô chamando o pessoal do nosso grupo. Vai ser legal. Vamos jantar conversar, nos divertir... E aí, aceita?
            – Nossa Juliet! Como posso recusar?
            – Ótimo, então avise Lilian, Bryan e Maicon também. Eles estão aí?
            – Obviamente, eles moram aqui comigo, né?
            Os dois deram risadas. Juliet estava ficando cada vez mais contente.
            Agora ligaria para a outra república, onde moravam: Billy, Denny e Douglas.
            O telefone deu três toques e foi Billy quem atendeu.
            – Alô?
            – Oi, é a Juliet. Tudo bem? Estou chamando a galera para passar um dia, quer dizer, uma noite aqui em casa, vamos jantar e conversar, o que acha?
            – Ahm, como assim? Passar uma noite seria dormir aí?
            – Isso mesmo.
            – Hmm, ótimo então Juliet, eu aceito o seu convite! Nossa, nem acredito que vou ficar bem perto do Sr. August, sou fã dele, sabia?
            – Ah sim. Obrigada. Mas preciso que convide Denny e Douglas também. Tá?
            – Sim, sim. Pode deixar, iremos sim. Eu falo com eles aqui. Nossa! Não vejo a hora!
            – Eu também! – disse Juliet rindo. – Então tchau! Às sete, ok?
            – Combinado.
            Juliet desligou. Discou o número das outras amigas, que dividiam um apartamento.
            – Olá Elita! Tudo bem por aí? Quero fazer um convite a você e à Lucy, é o seguinte: hoje vou dar um jantar para os amigos e quero que durmam aqui. Portanto, espero as duas, às sete.
            – Como? Espera um pouco. – ouviu-se Elita gritando por Lucy. – Ela já está vindo Juliet. Pode marcar minha presença aí. Tá? Beijo, tchau!
            – Alô? – agora era Lucy quem estava na linha. E depois de ouvir o convite ela perguntou: – E o Denny, só para saber, ele vai também?
            – Hmm, eu não sei, mas acho que sim. Acabei de falar com o Billy que se encarregou de dar o recado. Creio que ele venha. Por quê?
            – Ah, nada, bobagem... Vou sim. Estaremos aí. Às sete, não é mesmo? Então tá... Outro. Tchau! – e desligou.
Pronto. Juliet já fizera sua parte. Agora era só esperar.
            Abeline pediu para que ela desse algumas dicas sobre o cardápio daquela noite. “Não precisa ser uma coisa muito diferente tia Be, faça o que quiser, creio que gostarão de tudo. Ah, e faça as sobremesas no capricho, como sempre! Eles vão adorar”.
            Finalmente a hora tão esperada fora anunciada pelo relógio de Juliet. 19h00. Poucos minutos depois um carro chegou ao portão da mansão. Os seguranças chamaram Juliet pelo interfone. “Oi senhorita Juliet, estão três rapazes aqui na portaria: o Sr. Billy, Sr. Denny, e Sr. Douglas, a sua procura”.
            – Deixe-os entrar. Obrigada!
            O trio ficou impressionado, antes mesmo de entrarem na mansão. E quando entraram, ficaram de queixo caído. Era muito bonita.
            Carol, Elita e Lucy, que chegaram juntas depois de Lilian, Andrew, Maicon e Bryan. Estavam os dez enchendo o local de elogios. Ficavam olhando para todos os cantos, abobalhados com tanta riqueza.
            – Estão com fome? – perguntou Juliet quando eles deram uma trégua.
            Jantaram. E repetiram. O “rango” estava muito bom, segundo Maicon. Todos concordaram. Juliet estava encantada. “Que bom que tudo está dando certo”.
            Após o delicioso jantar, eles foram pegar as mochilas nos carros. Tinham que trocar de roupa. Ficaram até às vinte e uma horas conversando na sala, até que foram para os quartos. Não estavam com sono, portanto, continuaram conversando. Juliet dera toda liberdade para eles: – Sintam-se em casa – dissera.
            Eles ficaram jogando conversa fora durante uma hora.
            Andrew levara um jogo de tabuleiro muito conhecido e divertido. Eles se reuniram na grande sala para jogar. Era um jogo de estratégia, por isso, demorou muito para acabar. Alguns estavam bocejando de dez em dez minutos, o sono estava chegando aos poucos.

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