domingo, 15 de dezembro de 2013

O CÚMPLICE E O ASSASSINO - Capítulo 16

16
As semanas foram passando, Juliet já conversava com todos e gostava disso. Conhecia um pouco mais de cada colega a cada dia que passava. Agora sim ela estava completamente à vontade.
            Todos pareciam gostar de Juliet, e outra, ela era mais esperta que os demais, assim o grupo dela estaria em vantagem nos trabalhos. Juliet era a cabeça do grupo. “Como adoro isso”, ela refletia.
            Ainda era precipitado dizer que eles eram seus amigos de verdade, mas Juliet sentia que conseguira atingir seu objetivo principal: ter amigos.
            Ela abandonara algumas de suas regras, pois deixava as conversas fluírem. Sabia dizer o que cada um gostava de fazer – seu relatório estava certo – como, por exemplo: Billy adora praia e seu esporte favorito é o Surf; Douglas gosta de jogos eletrônicos, assim como Andrew, ambos parecem “nerds”; Lilian é muito vaidosa, adora moda e deseja ser estilista um dia; Lucy se veste bem e adora torta de limão, e parece gostar de Denny, pois trocam olhares às vezes; Denny é um cara meio sério, é comportado e gosta de rock, tinha até um projeto de uma banda, porém desistiu por causa dos estudos; Maicon, definitivamente adota o estilo skatista, gosta muito de andar de Skate e de praticar esportes radicais, atualmente ele entrou num regime rigoroso, pois é um pouco gordinho e quer emagrecer; Bryan é o melhor amigo de Maicon, pratica esportes também e é muito fã de skate, seu gênero musical predileto é o “Hip Hop”; Elita é uma pessoa tranquila e adora se maquiar, ela e Lilian trocam dicas de beleza comigo, quase diariamente; e a Carol é uma pessoa que prefere ouvir os outros, gosta de “Pop Rock” e de cinema.
            Os trabalhos escolares eram difíceis, mas tendo uma ex-aluna de escola particular no grupo, tudo ficava mais fácil.
            “Tenho amigos”, pensava empolgada.
            O dia da entrega dos trabalhos chegara. Juliet e seu grupo tiraram nota máxima: 10,0. O professor deu os parabéns para eles e para o outro grupo também, que obteve nota 9,0. Todos foram bem.
            – Sabe o que faremos? – perguntou Billy após as aulas. – Vamos todos comemorar!
            – Opa! – gritou Bryan. – Merecemos mesmo, não é Billy? Faremos uma festa, que tal pessoal?
            Todos riram e depois de minutos de discussão sobre onde fariam a festinha comemorativa, chegaram num acordo: Festa na casa de Billy, Denny e Douglas. Seria uma agitação só.
            Juliet não poderia deixar de concordar, essa festa era praticamente uma consumação de amizade. Uma confirmação de que seus amigos eram realmente seus amigos.
            A noite foi encobrindo aquela tarde. Juliet estava se preparando para a festa. Sua cabeça girava, estava carregada de coisas: amigos, festa, amigos, nota boa, amigos, felicidade, amigos e etc.
            Juliet estava diferente, parecia boba.
            Quando a deslumbrante moça desceu as escadas, com um vestido curto, simples, mas sexy, Abeline abriu a boca e exclamou: “Minha filha, você está esplendida, linda!”.
            – Pare tia Be.
            As duas riram.
            Juliet entrou no quarto de August, esbanjando junto ao perfume, uma alegria incontrolável. Seu tio deu-lhe as recomendações de sempre. E não podia faltar, é claro, o “toque de recolher”.
            – Meia-noite, moça – disse ele com sua voz baixa e meio asmática.
            – Uma hora – ela sugeriu, pois tinha que aproveitar o máximo da festa, porque nunca fora convidada para uma antes. – Por favor, tio querido...
            – Ah, sempre assim não é minha filha? Já se acostumou... Bom, não adianta discutir, não é mesmo? Até à uma hora então.
            Com um beijo estalado e um obrigado muito sincero, ela se despediu.
            Encontrou Abeline na sala e fez o mesmo.
            – Estou feliz por você, querida.
            – Sim, tia Be. Eu também estou. – E saiu.
            Chegou ao carro e já foi dizendo:
– Me deixe perto da república, tá bom? Não quero chegar neste carro lá. Combinado?
            – Sim – respondeu Alex, prontamente. – Você está muito linda – confessou ele.
            Juliet ficou sem graça. Soltou risinhos de excitação. E respondeu:
            – Obrigada, Alex.
Ela sentiu-se suando, não sabia se era por causa do calor do carro ou se era pelo elogio. Juliet ficou confusa, pois já percebera os olhares que o jovem motorista dava-lhe pelo espelho retrovisor quando andava de carro com ele. Logo concluiu que era pelo elogio do rapaz, pois o ar-condicionado estava ligado, na temperatura que ela gostava. Não tinha como suar, em relação ao calor. Ela não sabia o porquê, mas imaginou como seria o beijo de Alex. “Pare”, impôs.
            “O dia foi perfeito, e a noite... espero que seja perfeita também”, pensava Juliet, empolgada.
            Conforme o combinado, Alex a deixou uns duzentos metros de distância da república. Já dava para ouvir a música eletrônica, o volume estava bem alto. Juliet pegou um espelhinho na bolsa para olhar o seu rosto e certificar-se de que estava muito bonita.  Típico das mulheres.
            Quando a moça chegou ao portão todos se viraram para ela. Receberam-na muito bem e deram muitos elogios. As meninas a olhavam e ficavam com uma pontinha de inveja, porém tinham que admitir, Juliet estava linda.
            Estava todo mundo do grupo A na festa. Todos dançando, curtindo, bebendo e se divertindo.
            Juliet não bebia nada alcoólico, somente uns refrigerantes e nada mais. Arriscava dar uns passinhos no ritmo da música e se saia bem. A noite e a agitação foram seguindo.
Muitas pessoas entravam na cozinha para pegar bebidas ou para comer algo. Alguns passavam correndo no corredor para usar o banheiro, Juliet ria disso, mas não sabia dizer o motivo.
Às vezes Billy entrava no quarto com alguém, para mostrar algo, como por exemplo, algumas de suas medalhas, de “2º Lugar no Campeonato de Surf”, “1º Lugar - Feras do Surf”, “Provas de Verão - 3º Lugar” etc.
            Numa das paredes de seu quarto tinha um retrato, nele havia Billy numa onda gigante, sempre com sua luva da sorte, de lã preta.
            Todo mundo achava aquilo muito estranho. Onde já se viu? Em pleno verão, no mar, surfando e com uma luva? Perguntavam e Billy simplesmente respondia que era sua Luva da Sorte! Usava-a em qualquer uma das mãos, não fazia diferença.
            Na realidade não era a luva que lhe dava sorte, o que fazia de Billy um vencedor era ele próprio. Sua habilidade. Sua paixão pelo mar. Seu relacionamento com as ondas.
            A noite foi passando. Juliet estava mais animada, toda sua timidez se fora. Deu uns goles de licor de menta e se soltou um pouco mais na dança. Todo mundo estava agitado.
            Douglas entrou na cozinha, abriu a gaveta do armário, para pegar ou depositar algo e fechou. Depois foi até o quarto, onde dormiam ele, Denny e Billy, para pegar sua jaqueta, pois a deixara lá. Em instantes saiu com ela dobrada nos braços.
            – Galera. Tenho que ir – disse ele.
            – Nossa, por quê? A festa está tão boa! – gritou Juliet. Ela bebera uma quantia não muito grande de licor de menta, mas como nunca havia bebido antes, já era demais.
            – Está boa sim, mas me desculpem pessoal, tenho que ir, vou visitar uma amiga minha, vou dormir na casa dela, prometi, faz tempo que não apareço por lá. – Os caras o interromperam com “humm, hoje vai rolar” e “Douglas vai se dar bem”, mas ele não deu muita importância, e voltou a se explicar: – Mas volto na parte da tarde, não sintam saudades. Boa festa para todos!
            – Tchau, falou! – despediram-se.
            – Uhu! – Juliet gritou, logo tomou outro golinho de licor. – Como é bom isso – disse para si mesma, comentando sobre o sabor da bebida. Ela, de golinho em golinho, já tomara uma quantia equivalente a um copo cheio. Para o pessoal que sempre bebia isso era praticamente nada, mas para a moça...
Ela avistou de longe o grande relógio de time de futebol instalado na cozinha. Sem mais nem menos Juliet para de dançar. Faltavam quinze minutos para o ponteiro menor encostar-se ao número 1.
            – Ah não! – choramingou Juliet. – Meu tio vai me mat...
            – Juliet! – Douglas gritou do portão. – Tem um cara aqui te esperando. Acho que é seu motorista.
            – Gente, gente... – todos olharam para ela. – Olha, a festa está muito boa, mas eu preciso ir, pois prometi ao meu... – soluço. – Desculpe... Prometi ao meu tio que voltaria cedo e...
            – Tá bom – disse Andrew chegando perto. – Vamos, eu te acompanho até o portão. Vamos.
            – Tchau galera!
            Um coro de despedida foi ouvido.
            – Essa não, o que vai ser de mim? O que meu tio vai dizer sobre isso? O que tia Be vai falar? Nossa! – ela parou antes de chegar ao portão. Andrew perguntou o que tinha acontecido, e ela disse: – Alex não pode me ver desse jeito.
            – Quem é Alex?
            – Não importa, espere um minuto.
            Juliet foi ao banheiro lavar um pouco o rosto, sua maquiagem borrou e deixou-a pior. “Estou bêbada! Estou bêbada”. Ao sair do banheiro ela deu um tchau definitivo e entrou no carro. Seu desejo era se enfiar no porta-malas, para que o jovem motorista não visse seu rosto, ou melhor, o seu estado no geral. Ao voltar, o pessoal perguntou a Andrew o que havia acontecido, ele disse que não era nada. A festa continuou por algumas horas mais. O pessoal ia embora aos poucos. A bagunça era completa. Billy e Denny tinham muito o que arrumar, pois a república deles parecia ter sido vítima de um vendaval. Douglas ia se safar da arrumação.
            Juliet não sabia onde enfiar a cara, Alex olhava para ela todo instante. O silêncio no carro era sufocante. Até que ela desistiu e falou:
            – Alex, como acha que estou?
            – Mudada.
            – Como assim, mudada?
            – Juliet, você não frequentava lugares assim antes, não tinha essas amizades e não bebia.
            – Eu não bebi!
            – E não mentia também...
            – Ah, não fale assim comigo! Não conte a ninguém! Por favor – sua voz histérica foi ficando cada vez mais normal. Parecia mais um apelo. – Não conte a ninguém, Alex, se você é realmente meu amigo, não contará a ninguém, está bem?
            – Está entregue – disse ele, sério.
            – Prometa que não contará a ninguém!
            – Prometo. Não precisarei dizer nada. Sua roupa denuncia... Desde quando gosta de beber licor de menta? – ele sentira o cheiro. Juliet se assustou no carro parado, não tinha mais como limpar-se.
– Nossa! Droga! Eu não percebi que eu derramei tanto licor no meu vestido...
            – Melhor do que ter bebido. Agora entre senhorita, será melhor, pois terá se atrasado somente seis minutos. É uma e seis agora. Vamos.
            – Olha aqui Alex, quem você pensa que é? Não pode falar assim comigo. Não quero que cuide de mim, eu não preciso de...
            – Uma e sete, senhorita.
            – Ahh – ela saiu bufando do carro. Teria que dar uma explicação e tanto para o Sr. August e para a sua tia adotada. Com certeza estariam a esperando, preocupados e ansiosos. E assim foi.
            Logo que Juliet adentrou-se no salão, Abeline já ficara de pé. Estava ao lado de seu tio.
            – Minha filha você demorou e não ligou. O que é isso? Bebida alcoólica? – ela perguntou.
            – Ah, eu conto tudo, só me deixem tomar um banho. Já peço desculpas. Tio, tia, eu estou bem e ficarei melhor depois de um banho, agora vão dormir que amanhã eu explico tudo.
            – Pode tomar o seu banho Juliet, nós estaremos esperando-a aqui mesmo – disse o velho August, tranquilo.
            A moça ficou pensando no que seus pais diriam sobre ela se fossem vivos. Pensou nisso o banho todo, mas não se arrependera de nada. Ela se divertiu com seus amigos e isso era o que importava.
            Saiu do banho muito melhor, apesar de ele ter durado umas quatro vezes menos – pois não podia abusar dos velhinhos. Os dois estavam lá no sofá, aguardando-a. Esperando o relatório, completo, do que tinha acontecido na festa. “Será um interrogatório muito tenso”, pensou emburrada.
            No fim, só se importaram com a bebida. Juliet nunca tivera esse hábito. Mas ela acabou confessando que gostou – É só um licorzinho, gente. – Eles não aprovaram, deram bronca. Sobre o horário, não falaram nada. Pois o que era sete minutos de atraso?
            – Concluo que você não deva mais ir a essas festas, minha menina – falou o August. – Você é uma pessoa tão boa... Não deve estar em certos lugares, com certas pessoas.
            – Tio, não fale assim de meus amigos, são todos bons. São trabalhadores. Para sua informação, eles saem da aula e já vão direto para os seus respectivos serviços. São pessoas do bem.
            – Ah sim, então me deixe corrigir o que disse. “Não quero que fique em certos lugares”.
            – Então tá! Concordo! Mas só que eu os chamarei para cá. Ficaremos aqui então, já que você não quer que eu...
            – Tudo bem – interrompeu o velho. Juliet esperava outra resposta, mas calou-se na hora, pois estava surpresa.
            – Sério tio? Você ouviu tia Be? Eu posso trazê-los então? Ótimo. Ó tio, a tia Be tá de prova, o senhor deixou hein!
            – Sim.
            Juliet abraçou os dois e acompanhou seu tio até o quarto. Confessou que estava feliz.
            August lembrou-se da ligação que recebeu de sua irmã, Valéria. “Ah é, e como é que ela está?”, perguntou Juliet.
            – Valéria está bem. Antes não estava, mas agora parece que sua situação melhorou.
            – Como assim, tio?
            – Ela estava com problemas com o filho dela. Ele estava se envolvendo com pessoas ruins, acho que eram... como é que vocês jovens falam?
            – Tranqueiras?
            – Isso. Tranqueiras. Mas Valéria disse que o rapaz está melhor. Até viajou com um amigo no começo desse ano, parece que está fazendo intercâmbio. O que importa é que Valéria está bem (por enquanto). Ela sente muito em estar sozinha, mas está contente em saber que seu filho melhorou (o que era uma mentira).
            August e Juliet ficaram conversando por alguns minutos e logo foram se deitar.
            Juliet dormiu logo. Só sabe que se deitou e apagou. Antes de dormir ficou refletindo sobre algumas coisas, do tipo: “Como é bom ter amigos”, “Como é bom se divertir, e falando em ‘bom’, adorei aquela bebida: licor de menta é maravilhoso”. “Juliet, a que ponto você chegou?”, “Só foi um copo... eu acho”. “Apesar do sermão que tive que ouvir dos dois velhos mais queridos do mundo, eu não me arrependo de nada que fiz hoje”. “Quero que seja sempre assim”. “Quando eu acordar...”.
            E dormiu.

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