terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CIPO 1 - Ah se eu tivesse lido mais esses romances vampirescos!


Ah se eu tivesse lido mais esses romances vampirescos...

Tudo começou naquele dia em que decidi doar sangue, quando a maior parte da minha vida ainda era diurna, e eu dormia em cama, e não em poleiro.

Acordei cedo, umas 11h00 da manhã, e me dei conta de que eu devia fazer algo com o meu sangue. A primeira coisa que me ocorreu foi fazer um corte em cada pulso e ver o sangue jorrar para eu saber quantos litros havia em meu corpo. Mas não fiz isso, claro, pois a preguiça me pegou de jeito.

A segunda ideia que me ocorreu foi doar sangue (devia ter escolhido a primeira opção, mas enfim)...

Fui num consultório particular, de um médico muito conhecido aqui no bairro Trans Silvana, todos o chamavam pelo nome mesmo: Dr. Vampiresco Veias.

Já havia reparado há algum tempo certa palidez no Dr. Vampiresco Veias, acho que ele tinha alguma anemia, sei lá.

Bom, cheguei à sua caverna, pois sim, seu consultório era dentro de uma caverna, não sei o motivo, mas enfim, a arquitetura da cidade não devia agradá-lo muito.

Toquei a campainha e fiz o que o aviso na entrada mandava: “Tempere o seu pescoço aqui”.

Fiquei em dúvida entre os diversos molhos, mas acabei optando pelo Shoyo (o que eu queria mesmo era um à base de alho, mas tinha acabado).

Entrei na sala escurecida do Dr. Vampiresco Veias, e ele se encontrava deitado num caixão. Logo me assustei, pois era uma brincadeira de muito mau gosto.

Ele se desculpou e olhou para mim com olhos vermelhos. Eram lentes, óbvio!

Quando eu disse bom dia, ele cerrou os olhos e rosnou. Pulou do caixão com aquela capa que costumava usar, e me amaldiçoou: “Criatura infeliz!” Não entendi bem o porquê daquela reação animalesca. Fiquei quieto e ele logo me perguntou: “Eu não te falei que era para vir meia-noite?”

Saquei na hora a minha burrice! Havia entendido errado! “Pensei que era meio-dia”, disse num tom de desculpas.

“Vou te mandar para o inferno, criatura!”

Ri um pouco, o Dr. Vampiresco Veias era sempre assim, mantinha um bom humor a todo tempo, fazendo essas piadinhas. Ai, ai...

Não demorou muito, e as cordialidades se desfizeram... Estávamos agora preenchendo meu prontuário para a doação de sangue.

“Que tipo de alimen... digo, que tipo de sangue é o seu?”, perguntou o doutor.

“O meu é do tipo vermelho, e líquido também”.

“Ótimo, chega a ser licoroso?”

“Sim, sim”.

“Qual o volume de álcool”.

“Ah não Dr. Vampiresco... Eu não bebo álcool, só cerveja, vinhos, caipirinhas, cachaça, e de vez em quando, perfume, mas álcool nunca”.

Ele me olhou de lado, mostrando uma cara que não aprovei. Eu tive a leve impressão de que o Dr. Vampiresco Veias estava mentalmente me chamando de “bobinho”...

“Não seja idiota!”, ele rosnou...

Quase acertei... De “bobinho” para “idiota” faltava pouco, mas vamos lá...

Ele lambeu o meu pescoço, era parte do exame, segundo ele.

“Já temperou? Bom garoto”, disse. E eu respondi que sim, sou disciplinado.

O Dr. Vampiresco Veias mostrou os dentes pontiagudos que carregava dentro daquela boca sangrenta (seria gengivite?)... E como um banho de água fria, me toquei, pois sim, eu tenho esse dom de pegar as coisas no ar: O Dr. Vampiresco Veias não era um ser humano normal... Ele não tinha cáries! Como pode?!

Não sabia se falava ou se ficava quieto. Preferi guardar comigo.

Logo mais fui desconcentrado pelo barulho causado pelo atrito da faca e o garfo que o doutor tinha nas mãos. (Como é que apareceu aquele pano de prato – parecendo um babador – no pescoço dele? Esse Dr. Vampiresco tá querendo alguma coisa, desconfiei)...

Ele pulou em cima de mim, acho que queria brincar de lutinha, sei lá. Mas logicamente eu o empurrei, estou muito adulto para isso, eu lhe disse.

Ele não gostou da minha defesa, e fez aquilo de novo. Tomei um susto e fechei meus olhos. Senti o Dr. Vampiresco enfiando duas agulhas cirúrgicas no meu pescoço. Eu não as vi, porém, eram espessas demais. Deu pra sentir.

Mas por alguma razão desconhecida (que agora eu sei bem o que houve), eu comecei a desmaiar... Mas antes, sempre brincalhão, o Dr. Vampiresco Veias me perguntou: “Você não lê esses romancezinhos vampirescos, meu filho?”

Na realidade nem deu tempo de responder, desmaiei, mas eu teria dito que não gostava, pois não acreditava naquilo, era muita ficção pro meu gosto, coisa fantasiosa demais. Mas enfim...

Ah se eu tivesse lido mais esses romances vampirescos!

4 comentários:

  1. Nossa !! adorei o texto , curti muitoo , e ri muitooo ...

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  2. "O Dr. Vampiresco Veias mostrou os dentes pontiagudos que carregava dentro daquela boca sangrenta (seria gengivite?)... E como um banho de água fria, me toquei, pois sim, eu tenho esse dom de pegar as coisas no ar: O Dr. Vampiresco Veias não era um ser humano normal... Ele não tinha cáries! Como pode?! " kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk morri de rir com isso!!! Seu texto ficou hilário!

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    1. Obrigado!
      Quando eu tava escrevendo morri de rir também... \o/

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